dimanche 24 octobre 2021

Murilo Mendes - "NOTURNO RESUMIDO - RÉSUMÉ NOCTURNE"


Après avoir publicé un poème de Maria da Saudade Cortesão dans le post précédent, voici la poésie de son mari le poète brésilien Murilo Mendes.


"Murilo Monteiro Mendes (Juiz de Fora, Minas Gerais 13 de maio de 1901 — Lisboa, 13 de agosto de 1975) foi um poeta e prosador brasileiro, expoente do surrealismo no movimento modernista brasileiro.."

Pour situer l'oeuvre du poète, 
j'ai cherché une définition du modernisme, un mouvement artistique qui a "atteint son apogée dans les premières décennies du XXème siècle... Il regroupe, en effet, une multitude de mouvements littéraires et artistiques avant-gardistes, parmi lesquels le post-impressionnisme, le cubisme, le dadaïsme, le surréalisme, le futurisme, le vorticisme, l'imagisme et l'expressionnisme..."


Né à Juiz de Fora (Minas Gerais), fils d’Onofre Mendes et d’Eliza de Barros Mendes, Murilo Mendes poète brésilien ira vivre en 1920 à Rio de Janeiro, où il commence sa carrière littéraire.
Les années 1940 et 1950, Murilo Mendes les passe dans plusieurs pays d' Europe. Au Portugal ses séjours seront de plus en plus longs, et d'après plusieurs publications, ce pays serait devenu sa seconde patrie, cela du aussi à son mariage avec la poétesse portugaise Maria da Saudade Cortesão.
Murilo Mendes "est mort le 13 août 1975 à Estoril (Lisbonne), au Portugal, dans ce pays qu’il a choisi d’aimer et où il est resté."
Le poète et écrivain dediera au Portugal son livre "Janelas Verdes"
https://ulysseias.ilcml.com/fr/terme/mendes-murilo-2/

Je vous invite à connaître ou à lire un de ces poèmes:

NOTURNO RESUMIDO

A noite suspende na bruta mão
que trabalhou no circo das idades anteriores
as casas que o pessoal dorme comportadinho
atravessado na cama
comprada no turco a prestações.

A lua e os manifestos da arte moderna
brigam no poema em branco.

A vizinha sestrosa da janela em frente
tem na vida um camarada
que se atirou dum quinto andar.
Todos têm a vidinha deles.

As namoradas não namoram mais
porque nós agora somos civilizados,
andamos no automóvel gostoso pensando no cubismo.

A noite é uma soma de sambas
que eu ando ouvindo há muitos anos.

O tinteiro caindo me suja os dedos
e me aborrece tanto:
não posso escrever a obra-prima
que todos esperam do meu talento.

Murilo Mendes

J'écris en rouge ma traduction d'amateur de ce poème de Murilo Mendes:

RÉSUMÉ NOCTURNE

La nuit suspend dans sa main rugueuse
qui a travaillé dans le cirque des âges précédents
les maisons où les gens dorment sagement
en travers du lit
acheté chez le turc en mensualités.

La lune et les manifestes d'art moderne
se disputent dans le poème vide.

La voisine charmante de la fenêtre d'en face
a dans sa vie un camarade
que s'est jeté du cinquième étage.
Chacun a sa petite vie.

Les copines ne sortent plus avec nous
car maintenant nous sommes civilisés,
nous roulons dans une belle voiture en pensant au cubisme.

La nuit est un amoncellement de sambas
que j'écoute depuis de nombreuses années.

L'encrier qui tombe me salit les doigts
et cela m'embête tellement:
je ne peux pas écrire le chef-d'oeuvre
que tous attendent de mon talent.


Encontramos que :
"o sobrenome Mendes se espalhou, desde os primeiros anos de colonização do Brasil, por seu vasto território. Em Minas Gerais, mais especificamente na região de Juiz de Fora, estabeleceu-se a importante família de Francisco Mendes de Carvalho, que deixou numerosa descendência de seu casamento com Ana Mendes de Carvalho. Entre esses descendentes, destaca-se o filho dr. Onofre Mendes, nascido em 1873, empresário que foi homenageado com o nome de uma rua em Juiz de Fora. Destaque também para o neto Murilo Mendes, renomado poeta brasileiro, nascido em Juiz de Fora em 1901.."

mardi 12 octobre 2021

Maria da Saudade Cortesão - "Primavera / Printemps"

Maria da Saudade Cortesão, poétesse née en 1938 à Porto, ville du nord du Portugal; la jeune fille a accompagné son père au Brésil, où elle a connu et épousé Murilo Mendes.

image du net

Maria da Saudade Cortesão Mendes 
(Porto, 1938 – Lisboa, 25/11/2010) 
poetisa e tradutora, filha de Jaime Cortesão e esposa do poeta brasileiro Murilo Mendes.
"Filha de Jaime Cortesão, viveu grande parte da vida no estrangeiro acompanhando seu pai no exílio, primeiro em Paris (1927), depois em Madrid e, por fim, no Rio de Janeiro, onde conheceu o poeta Murilo Mendes com quem veio a casar-se em 1947. Entre 1952 e 1956 viajou pela Europa acompanhando o marido em missões culturais ..."

https://www.publico.pt/2010/11/26/culturaipsilon/noticia/morreu-a-poetisa-saudade-cortesao-1468164

Maria da Saudade Cortesão avec son mari Murilo Mendes
(image du net)

image du net

“…Como poeta publicou seis livros; traduziu “Crime na catedral”, de Eliot (além de Shakespeare e Camus), e publicou muita coisa que ainda está dispersa por jornais e revistas portugueses, brasileiros e italianos….”
https://domtotal.com/blogs/carlosavila/476/2015/01/a-musa-de-murilo/

PRIMAVERA - Maria da Saudade Cortesão Mendes

A Musa que passava
Não era a que sabias.
Vinha em lua minguante
A espaços vestida
Por espelhos azuis
E narcisos de frio.

Que remanso tão meigo
Em seus peitos havia!
Que miosótis de leite
Em suas veias tíbias,
Três tangentes tocavam
O seu coração dúbio.

Não lhe soubeste o corpo —
Terra da madrugada
Que se dava ferida,
Nem os seus cursos de água.
Olhavas tão ao longe
Enquanto o amor te olhava.


Avec ma traduction d'amateur (printemps en portugais é du genre féminin) :

PRINTEMPS

La  Muse qui passait
N'était pas celle que tu connaissais. 
Elle arrivait en lune décroissante 
Par intervalles habillée 
Par des miroirs bleus 
Et des jonquilles froides.

Quelle mare si douce
Qu'il y avait dans ses seins!
Quels myosotis laiteux
Dans ses veines vacillantes,
Trois tangentes qui touchaient
Son coeur indécis.

Tu n'as pas connu son corps —
La terre qui à l'aube
S'offrait avec sa blessure,
Ni ses cours d'eau.
Ton regard se perdait si loin
Pendant que l'amour te regardait.



un autre poème trouvé sur le net:

OFÉLIA 

Que perfil perdi no vento
Que rosto perdi na água,
Transparência perturbada,
Íris d’água cor do tempo.

Nunca a figura do sonho
Me pareceu tão velada —
Vejo só a meia-lua
Da sua nuca inclinada.

Edifício d’água e sombra
Que a corrente desmanchava
E em meus cabelos ao sul
As grinaldas desfolhava.

Deixai-me afundar nas frias
Solidões de junco e mágoa,
E de mim própria ausente
Repousar à sombra d’água.


Sobre o pai de Maria da Saudade:
Jaime Zuzarte Cortesão foi um médico, político, escritor e historiador português. Filho do filólogo António Augusto Cortesão, foi irmão do historiador Armando Cortesão e pai da renomeada ecologista Maria Judith Zuzarte Cortesão e da poetisa Maria da Saudade Cortesão, esposa do poeta modernista Murilo Mendes.