samedi 24 novembre 2018

Eugenio de Andrade - "Adeus / Adieu"



Chers ami(e)s
je participe à au blog de Lourdes Duarte, le POETIZANDO E ENCANTANDO, où chaque semaine, elle nous invite à écrire un texte poétique, ou un poème, sur le sujet d'une image que l'on choisit parmi celles qu'elle nous propose.


image du net
Sur le sujet des "adieux", je vous propose de vous faire connaitre le poète portugais Eugénio de Andrade et son poème ADEUS, dont je fais une traduction d'amateur.

Nous avons déjà épuisé les mots par les rues, mon amour,
et ce qui nous reste n'est pas suffisant
pour conjurer le froid de quatre murs.
Nous avons tout épuisé sauf le silence.
Nous avons usé nos yeux avec le sel des larmes,
nous avons usé nos mains de tant les resserrer,
Nous avons usé l'horloge et les pierres des coins de rue
dans une attente inutile.

Je mets mes mains dans mes poches
et je ne trouve rien.
Autrefois, nous avions tellement à nous donner!
C'était comme si tout était à moi:
plus je te donnais, plus j’en avais à te donner.
Parfois tu disais: tes yeux sont des poissons verts!
et je te croyais
Je te croyais,
parce qu'à tes côtés
tout était possible.
Mais c'était à l'époque des secrets,
à l'époque où ton corps était un aquarium,
à l’époque où mes yeux
étaient des poissons verts.
Aujourd'hui, ce ne sont que mes yeux.
C'est peu, mais c'est vrai,
des yeux comme tous les autres.
Nous avons déjà épuisé les mots.
Quand maintenant je dis: mon amour ...,
rien ne se passe déjà plus.
Et pourtant, avant que les mots ne soient épuisés,
J’en suis sur
que toutes les choses frissonaient
rien que de murmurer ton nom
dans le silence de mon coeur.
Nous n'avons plus rien à donner.
À l'intérieur de toi
il n'y a rien qui me demande de l'eau.
Le passé est inutile comme un chiffon.
Et je t’ai déjà dit: les mots sont épuisés.
Adieu.



Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.


Eugénio de Andrade 
O poeta Eugénio de Andrade nasceu na freguesia de Póva de Atalaia (Fundão) no dia 19 de Janeiro de 1923. Mudou-se para Lisboa aos dez anos devido à separação dos seus pais. Em 1943 mudou-se para Coimbra, onde regressa depois de cumprido o serviço militar convivendo com Miguel Torga e Eduardo Lourenço. Tornou-se funcionário público em 1947, exercendo durante 35 anos as funções de Inspector Administrativo do Ministèrio da Saúde. Uma transferência de serviço levá-lo-ia a instalar-se no Porto em 1950, onde viveu até à sua morte en 2005.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Eugénio_de_Andrade 
Amanda Amanda Mirasci | Adeus | Eugenio de Andrade 
Publié par Toda Poesia 
Publicado a 20/05/2015 Amanda Mirasci apresenta "Adeus", poema de Eugenio de Andrade. 

A partir de uma ou mais imagens que a Profª Lurdes indica a cada semana, desenvolve-se a criatividade escrevendo versos, poesias, pensamentos ou mensagens.
É uma brincadeira sem competição, participa-se com o coração e o amor à poesia.
5ª Imagem -Uma jovem com malas nas mãos, caminha numa estrada no meio do mato enquanto se distancia de um jovem que a observa, como em uma despedida.
Utopia

Deitávamo-nos com sonhos dourados
Como quem tem a pele perfumada
Com as notas frescas de maracujá,
Ou com a fragrância floral que convirá!

E o abraço durou por muito tempo
A felicidade, sobrevoando os jardins,
Percorria espaços como páginas de livros
Aconchegando-se em veludos e cetins.

E a nossa vida era um filme de imagens
Abençoada pelas estrelas, de paz e alegria,
De portas abertas, luzes de Natal,
De canções de luar, até ser dia.

E um dia tudo mudou. Tudo magoou.
A traição apagou o aroma leve e delicado
dos lírios. Não sei se irei voltar.
Mas hoje sei, que embora me vou.

Angela

dimanche 18 novembre 2018

Flores do Campo




Caros amigos, em resposta ao amável convite da Profª Lourdes e ao seu Poetizando e Encantando, para brincar aos poetas, refiro a 
3ª Imagem- Uma linda jovem, com vestido a moda antiga, sentada num galho de uma árvore apreciando os campos verdes do lugar.

Espero que gostem !


Flores do campo

Da Primavera que me perfumava os dias,
Nem lhe conhecia o nome.
E as aves que viajavam no céu,
Só o canto lhes ouvia.

Era um refrão matinal,
De muito encanto e poesia,
Um pequeno universo de infinitas surpresas,
Que os raios do sol mostravam.

Eram as flores do campo,
Que às crianças as cores ensinavam,
Cenários de arco-íris,
Que telas de pintor retratavam!

Lá isso eu bem sabia,
Que as papoilas pintavam de vermelho os campos,
E flores outras, singelas,
As cores do mundo transportavam.

Que de branco os malmequeres se vestiam,
Os pampilhos de amarelo, iguais à luz do dia ,
Agitados pela aragem,
Num bailado de leveza.

E as malvas roxas ou violetas,
Que o lilás parodiam,
Tojos, cardos e alecrim, com flores de beleza,
Testemunhos e sabedoria da grande mãe natureza. 

Nestes campos verdejantes
Que em breve voltarão a florir,
Da infância saudosa, dos reparos de alegria,
Despertam-se suspiros de nostalgia !

Angela

E algumas das minhas fotografias dos campos floridos do Algarve,  na Primavera:

samedi 10 novembre 2018

Cedo demais / Trop tot



Da 60ª Edição do blogue da Profª Lourdes, reporto a 2ª Imagem- Uma paisagem chuvosa, uma jovem sentada no chão com ar de tristeza.
Fico feliz por ler que a Lourdes continua a apoiar os desafios, e vou de seguida ler os versos encantados dos nossos amigos no Poetizando e Encantando!
Chegaste cedo demais

Meu amor, chegaste cedo de mais.
Num cenário de manhãs claras,
De penhascos reluzentes de orvalho,
Com reflexos de aurora presos nos quintais.

Um horizonte de poesia sem acordes,
Onde o meu coração, ainda que discordes,
Dormia, ternurento de infância e de sentimento,
E foi levado pelo turbilhão do momento.

Almas reveladas, fontes de prazer ,
Juntou-se o céu e a terra para te receber.
Vi-me noiva temerosa no altar,
Desapareci, desatinada, sem te abraçar.

Nesta ponte me prostrei e escondi
A minha ansiedade e o meu pranto,
Encontrei a paz e o silêncio que mendigo,
Beija-me a chuva no improvisado abrigo.

Angela




Minhas fotos do outono no parque municipal de Loulé

dimanche 4 novembre 2018

Fausto - "O barco vai de saída / le départ du navire"



Cara Prof.ª Lourdes, foi a sua 1ª Imagem - Uma garrafa perdida na areia da praia com uma paisagem marítima com um navio dentro dela, que me inspirou, e dando seguimento ao convite da 59ª edição do Poetizando e Encantando, deixo aqui a minha participação, com carinho para todos :)
beijinho, votos de feliz fim de semana!

Navegam os sonhos

Navegam os sonhos, flutuam luzes no mar
Sem o sal da vida, nada é propício ao amor!
Rompem as manhãs, florescem auroras,
Ouvem-se sinos a tocar e canções de embalar,
E a luz divide-se em abraços que se abrigam,
Sob o manto enternecido de um olhar.

Quem poderá ainda encontrar
os búzios, que na areia, escondem os segredos
de um antigo naufragar?

O céu não tem limites; num sem fim azul
Recebe mensagens de esperança e de saudade.
As agulhas movem-se, os ventos sopram para sul.
Para além do desconhecido e da vaidade,
Nada se torna impossível, nada é sem valor,
Como colocar um navio, numa garrafa em flor!

Angela


Fausto, de son nom Carlos Fausto Bordalo Gomes Dias est un poète, compositeur, musicien et chanteur portugais né le 26 novembre 1948, à bord du navire "Pátria", qui navigait  entre le Portugal et l'Angola (à cette époque une colonie du Portugal)
Après avoir vécu vingt ans en Afrique, Fausto rentre à Lisbonne et la capitale devient sont lieu de résidence.
Dans ce poème qu'il a composé, Fausto décrit la vie hasardeuse des anciens marins portugais qui partaient de Lisbonne pour de longs voyages sur les routes maritimes récemment découvertes...

Músico, poeta e compositor português, Carlos Fausto Bordalo Gomes Dias nasceu a 26 de novembro de 1948, a bordo do navio "Pátria", que viajava entre Portugal e Angola. Ao fim de vinte anos em terra africana, viajou para Lisboa onde fixou residência..
Fausto, dedicado sobretudo ao canto de intervenção, é considerado um dos mais criativos e expressivos criadores e intérpretes da música popular portuguesa…
Source:http://folhadepoesia.blogspot.com/2014/09/o-barco-vai-de-saida-fausto.html
Neste poema que compôs, Fausto homenageia os antigos marinheiros portugueses que embarcavam nos navios que partiam de Lisboa, nas aventuras das grandes descobertas, em viagens longas repletas de sonhos de grandeza, de grandes perigos e de saudades. 
O barco vai de saída – Fausto
mmm
Publié par manuel ferreira 
Publicado a 06/02/2011 

O BARCO VAI DE SAÍDA

O barco vai de saída    /    C'est le départ du navire
Adeus ó cais de Alfama   / Adieu oh quai d'Alfama
Se agora vou de partida    / Car je m'en vais
Levo-te comigo ó cana verde / Je t'emporte oh cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor  / Souviens-toi de moi mon amour
Lembra-te de mim nesta aventura  / Souviens-toi de moi dans cette aventure
P’ra lá da loucura  / Au-delà de la folie
P´ra lá do equador  /
Au-delà de l'Equateur

Ah! mas que ingrata ventura bem me posso queixar /Ah quelle chance ingrate dont je me plains
Da pátria a pouca fartura  / De la patrie le peu de biens
Cheia de mágoas ai quebra mar / Trop d'amertumes aï brise mer 
Com tantos perigos ai minha vida / Tant de dangers aï ma vie 
Com tantos medos e sobressaltos / Tant de frayeurs et d'anxiétés
Que eu já vou aos saltos / Que je parts en sautant
Que eu vou de fugida  / Que je parts en fuyant

Sem contar essa história escondida / Sans raconter l'histoire cachée
Por servir de criado a essa senhora / Ayant servi de domestique à cette femme
Serviu-se ela também tão sedutora /Elle aussi s'est servie avec tant de séduction
Foi pecado. / Ce fut un pêché
Foi pecado! / Ce fut un pêché 
E foi pecado sim senhor! Ce fut un pêché, c'est vrai !
Que vida boa era a de Lisboa!
Que la vie était belle à Lisbonne!

Gingão de roda batida  / Baroudeur de longue date,
Corsário sem cruzado  / Corsaire sans le sou
Ao som do baile mandado  / Au son du bal commandé
Em terras de pimenta e maravilha  / Dans les terres de poivre et merveilles
Com sonhos de prata e fantasia  / Avec des rêves d'argent et de fantaisie
Com sonhos da cor do arco-íris  / Avec des rêves couleur de l'arc-en-ciel
Desvairas se os vires  / Tu hallucines si tu les vois
Desvairas magia    / Tu hallucines la magie

Já tenho a vela enfunada / Ma voile est déjà gonflée
Marrano sem vergonha  /  Marrano sans gêne
Judeu sem coisa sem fronha  / Juif sans rien sans visage
Vou de viagem ai que largada  / Quel départ je parts en voyage
Só vejo cores ai que alegria  / Je vois tout en couleur ah quel bonheur
Só vejo piratas e tesouros   / Je ne vois que pirates et trésors
São pratas são ouros  / Tout est en argent et en or
São noites são dias   / Ce sont des nuits et des jours

Vou no espantoso trono das águas  / Je suis sur le trone des vagues 
Vou no tremendo assopro dos ventos  /  Je suis sur l'affolant souffle des vents
Vou por cima dos meus pensamentos  /  Je vais sur le dessus de mes pensées
Arrepia  /  C'est effrayant
Arrepia  / C'est effrayant
E arrepia sim senhor  /  C'est vrai que c'est effrayant
Que vida boa era a de Lisboa  /  Que la vie était belle á Lisbonne!

O mar das águas ardendo  / Les eaux de l'océan brûlent
O delírio dos céus  /  Les cieux sont en délire 
A fúria do barlavento  /  C'est la furie à l'ouest 
Arreia a vela e vai marujo ao leme /  Marin retient la voile et le gouvernail
Vira o barco e cai marujo ao mar  /  Navire retourné et marin à la mer tombé
Vira o barco na curva da morte  / 
Navire retourné dans la virage de la mort

Olha a minha sorte  /   Regarde ma chance
Olha o meu azar   / Regarde le hazard

E depois do barco virado  / Avec le navire retourné
Grandes urros e gritos   /  Les hurlements et les cris
Na salvação dos aflitos  / En sauvant les rescapés 
Esfola, mata, agarra  /  Dépouille, tue, saisit,
Ai quem me ajuda  / Ah qui peut m'aider 
Reza, implora, escapa  /  Prie, implore, fuit, 
Ai que pagode   / Ah quelle fête
Reza tremem heróis e eunucos  / Prie  tremblent les héros et les eunuques 
São mouros são turcos / Ce sont des maures ce sont des turques
São mouros acode  / Ce sont des maures au secours

Aquilo é uma tempestade medonha / C'est une horrible tempête
Aquilo vai p´ra lá do que é eterno   / C'est au delà de ce qui est éternel 
Aquilo era o retrato do inferno  / C'était la face de l'enfer 
Vai ao fundo  / Il coule
Vai ao fundo  / Il  coule
E vai ao fundo sim senhor /  Il coule c'est vrai
Que vida boa era a de Lisboa. /
Que la vie était belle à Lisbonne !
      
Letra e música de Fausto Bordalo Dias, in Por este rio acima, 1982


image du net:http://fausto-bordalodias.blogspot.com/p/discografia.html