Accompagnons les flâneries de poètes de langue portugaise, les compositions de rimes, les pensées inquiètes ou riantes, de Fernando Pessoa, Luis de Camões, Florbela Espanca, António Nobre, Avelina Noronha, Manuel Fonseca...
(o tradutor à direita da página poderá contribuir para uma melhor compreensão dos textos. Obrigada)
Fernando Pessoa, l'illustre poète portugais (1888-1935), poète universel de par son oeuvre immense
Le poème qui suit, rappelle l'épisode tragique de la mort du jeune roi portugais Sébastien 1er partit combattre les maures. Disparu lors de la bataille des Trois Rois (Alcácer-Quibir),
ce désastre provoca une grande crise de succession car Sébastien 1er est mort sans laisser d'héritier. Un des candidats au trône fut le puissant roi d'Espagne (petit fils du roi portugais Manuel 1er) qui, prenant le pouvoir à Lisbonne, donna lieu à l'Union Ibérique.
La croyance du peuple portugais basé sur la légende que le roi avait échappé à la mort, fit croître le "sébastianisme" et l'espoir d'un retour du souverain qui devrait revenir "lors d'un matin de brouillard" pour normaliser la situation du pays.
A última nau
Levando a bordo El-Rei
D. Sebastião, E erguendo, como um
nome, alto o pendão Do Império, Foi-se a última nau, ao
sol aziago Erma, e entre choros de
ânsia e de pressago Mistério. Não voltou mais. A que
ilha indescoberta Aportou? Voltará da
sorte incerta Que teve? Deus guarda o corpo e a
forma do futuro, Mas Sua luz projeta-o,
sonho escuro E breve. Ah, quanto mais ao povo
a alma falta, Mais a minha alma
atlântica se exalta E entorna, E em mim, num mar que
não tem tempo ou ’spaço, Vejo entre a cerração
teu vulto baço Que torna. Não sei a hora, mas sei
que há a hora, Demore-a Deus,
chame-lhe a alma embora Mistério. Surges ao sol em mim, e
a névoa finda: A mesma, e trazes o
pendão ainda Do Império.
Fernando Pessoa em "Mensagem"
Ma traduction d'amateur:
Le dernier bateau
Emportant à son bord le Roi Dom Sebastião,
Et en hissant, comme un nom, haut, l’étendard
De l'Empire,
Partit le dernier bateau, sous le soleil amère
Errant, parmi les cris d’angoisse et de prophétique
Mystère.
Il n'est pas revenu. A quelle île inconnue
A-t-il accosté? Reviendra-t-il du sort incertain
Qu'il a connu? Dieu se réserve le corps et la forme du futur,
Mais Sa lumière se projecte, rêve sombre
Et court.
Ah, plus l'âme au peuple faiblit,
Plus mon âme atlantique se raffermit
Et se répand,
Et en moi, dans un océan qui n'a ni de temps ni d'espace,
Je vois entre le brouillard ta silhouette blême
Revenant.
Je ne sais pas l’heure, mais je sais qu'il y a l’heure,
Que Dieu la retarde, l’appelle l’âme partante
MystèreTu surgis au soleil en moi, et la
brume part:
La même, et de l'Empire tu portes encore
L'étendard.
Vicente de Carvalho, poète brésilien, a été appelé le poète de la mer.
Le poète est né dans une ville côtière, et son oeuvre exprime de forts sentiments liés à l'activité et à l'enchantement de la mer.
Vicente Augusto de Carvalho (1866 - 1924) foi um advogado, jornalista, político, abolicionista, fazendeiro, deputado, magistrado, poeta e contista brasileiro. Nasceu numa tradicional família santista. Pelo lado paterno vinha uma linhagem militar, com seu avô capitão de milícias e seu pai o Major Higino José Botelho de Carvalho.
Considerado o maior poeta lírico do Brasil, foi também redator do Diário de Santos e fundador do Diário da Manhã. Foi candidato a deputado provincial no Congresso Republicano no ano de 1887, deputado no Congresso Constituinte do Estado, defensor do abolicionismo e da república.
Palavras ao Mar - Vicente de Carvalho
Publié par ArtefatoculturalTV . 20 nov. 2008
J'ai beaucoup aimé ce long poème qu'il a appelé "Paroles à la mer" et dont je traduis (en amateur) les premiers vers
PALAVRAS AO MAR
Mar, belo mar selvagem Mer, belle mer sauvage Das nossas praias solitárias! Tigre De nos plages solitaires! Le tigre A que as brisas da terra o sono embalam, Dont les brises de la terre bercent le sommeil, A que o vento do largo eriça o pelo! Dont le vent du large soulève la fourrure! Junto da espuma com que as praias bordas, Près de l'écume dont tu bordes les plages, Pelo marulho acalentada, à sombra Par la houle attiédie, à l'ombre Das palmeiras que arfando se debruçam Des palmiers qui se penchent essouflés Na beirada das ondas – a minha alma Au bord des vagues - mon âme Abriu-se para a vida como se abre S'est ouverte à la vie comme s'ouvre A flor da murta para o sol do estio. La fleur de myrte au soleil de l'été.
Quando eu nasci, raiava Quand je suis né, le mois clair O claro mês das garças forasteiras: Des hérons apatrides débutait: Abril, sorrindo em flor pelos outeiros, Avril, souriait en fleur sur les collines, Nadando em luz na oscilação das ondas, Nageant lumineux dans l'ocillation des vagues, Desenrolava a primavera de ouro; Le printemps d'or il dépliait; E as leves garças, como folhas soltas Et les hérons légers, comme des feuilles éparses Num leve sopro de aura dispersadas, Dans un léger souffle de brise dispersées, Vinham do azul do céu turbilhonando Venaient de l'azur du ciel en tourbillonnant Pousar o voo à tona das espumas… Poser leur envol au-dessus des écumes...
É o tempo em que adormeces Ao sol que abrasa: a cólera espumante, Que estoura e brame sacudindo os ares, Não os saco de mais, nem brame e estoura; Apenas se ouve, tímido e plangente, O teu murmúrio; e pelo alvor das praias, Langue, numa carícia de amoroso, As largas ondas marulhando estendes…
Ah! vem daí por certo A voz que escuto em mim, trêmula e triste, Este marulho que me canta na alma, E que a alma jorra desmaiado em versos; De ti, de tu unicamente, aquela Canção de amor sentida e murmurante Que eu vim cantando, sem saber se a ouvia, Pela manhã de sol dos meus vinte anos.
O velho condenado, ao cárcere das rochas que te cingem! Em vão levantas para o céu distante Os borrifos das ondas desgrenhadas. Debalde! O céu, cheio de sol se é dia, Palpitante de estrelas quando é noite, Paira, longínquo e indiferente, acima Da tua solidão, dos teus clamores…
Condenado e insubmisso Como tu mesmo, eu sou como tu mesmo Uma alma sobre a qual o céu resplende – Longínquo céu – de um esplendor distante. Debalde, o mar que em ondas te arrepelas, Meu tumultuoso coração revolto Levanta para o céu como borrifos, Toda a poeira de ouro dos meus sonhos.
Sei que a ventura existe, Sonho-a; sonhando a vejo, luminosa. Como dentro da noite amortalhado Vês longe o claro bando das estrelas; Em vão tento alcançá-la, e as curtas asas Da alma entreabrindo, subo por instantes… O mar! A minha vida é como as praias, E o sonho morre como as ondas voltam!
Mar, belo mar selvagem Das nossas praias solitárias! Tigre de que as brisas da terra o sono embalam, A que o vento do largo eriça o pelo! Ouço-te às vezes revoltado e brusco, Escondido, fantástico, atirando Pela sombra das noites sem estrelas A blasfêmia colérica das ondas… Também eu ergo às vezes Imprecações, clamores e blasfêmias Contra essa mão desconhecida e vaga Que traçou meu destino… Crime absurdo O crime de nascer! Foi o meu crime.
E eu expio-o vivendo, devorado Por esta angústia do meu sonho inútil. Maldita a vida que promete e falta, Que mostra o céu prendendo-nos à terra, E, dando as asas, não permite o voo! Ah! cavassem-te embora O túmulo em que vives – entre as mesmas Rochas nuas que os flancos te espedaçam, Entre as nuas areias que te cingem… Mas fosses morto, morto para o sonho, Morto para o desejo de ar e espaço, E não pairasse, como um bem ausente, Todo o infinito em cima de teu túmulo!
Fosse tu como um lago, Como um lago perdido entre as montanhas: Por só paisagem – áridas escarpas, Uma nesga de céu como horizonte… E nada mais! Nem visses nem sentisses Aberto sobre ti de lado a lado Todo o universo deslumbrante – perto Do teu desejo e além do teu alcance! Nem visses nem sentisses A tua solidão, sentindo e vendo A larga terra engalanada em pompas Que te provocam para repelir-te; Nem buscando a ventura que arfa em roda, A onda elevasses para a ver tombando, – Beijo que se desfaz sem ter vivido, Triste flor que já brota desfolhada…
Mar, belo mar selvagem! O olhar que te olha só te vê rolando A esmeralda das ondas, debruada Da leve fímbria de irisada espuma… Eu adivinho mais: eu sinto… ou sonho Um coração chagado de desejos Latejando, batendo, restrugindo Pelos fundos abismos do teu peito. Ah, se o olhar descobrisse Quanto esse lençol de águas e de espumas Cobre, oculta, amortalha!… A alma dos homens Apiedada entendera os teus rugidos, Os teus gritos de cólera insubmissa, Os bramidos de angústia e de revolta De tanto brilho condenado à sombra, De tanta vida condenada à morte! Ninguém entenda, embora, Esse vago clamor, marulho ou versos, Que sai da tua solidão nas praias, Que sai da minha solidão na vida… Que importa? Vibre no ar, acode os ecos E embale-nos a nós que o murmuramos… Versos, marulho! Amargos confidentes Do mesmo sonho que sonhamos ambos!
Vicente de Carvalho
"...Euclides da Cunha, que prefaciou "Poemas e Canções", considera as "Palavras ao Mar" um dos "maiores poemas que ainda se escreveram em língua portuguesa". Muitos outros escritores e críticos situaram Vicente de Carvalho um lugar inconfundível na poesia brasileira…"
D'après plusieurs études, Casimiro de Abreu (1839-1860) poète brésilien, fait partie de la seconde génération romantique qui est associée dans plusieurs publications, à l'ultra-romantisme.
Fils du riche commerçant portugais José Joaquim Marques et de Luisa Joaquina das Neves,
Casimiro José Marques de Abreu, est né dans l'état de Rio de Janeiro, le 4 janvier 1839.
L'église de São João, où Casimiro de Abreu a reçu le baptême
Igreja de São João, em Barra de São João, onde Casimiro de Abreu foi batizado.
En 1853 son père envoya Casimiro à Lisbonne pour lui faire suivre des études supérieures de commerce, mais c'est la littérature et la poésie qui l'intéressaient le plus.
Il reste 4 ans dans la capitale portugaise, où il rencontre les intellectuels portugais de l'époque, où il s'imprègne des sentiments et des états d'âme du romantisme, et où il écrit la plupart de ses poèmes. À la fin de ses études, le poète retourne au Brésil, où il mènera sa vie de bohème.
Malheureusement, atteint de tuberculose, Casimiro de Abreu vient à mourir très jeune en 1860.
Casimiro de Abreu est l'auteur du poème "Meus Oito Anos" (mes huit ans), une oeuvre très populaire de la littérature brésilienne.
Pour décrire des souvenirs du lieu de son enfance et la nostalgie des sentiments de liberté et de bonheur d'un temps idyllique, le poète se penche sur le "Saudosismo" (un mot très répandu au Portugal, signifiant le mal du pays, la nostalgie, ou le désir de retourner dans le passé, mais aussi le mouvement littéraire).
Je traduis la première partie du poème:
Meus Oito AnosMes huit ans
Oh! Que saudades que tenho Oh! Comme vous me manquez Da aurora da minha vida, Toi l'aube de ma vie, Da minha infância querida Toi mon enfance chérie Que os anos não trazem mais! Que les années ne verront plus! Que amor, que sonhos, que flores, Combien d'amours, de rêves, de fleurs, Naquelas tardes fagueiras Dans ces après-midis enjôleurs À sombra das bananeiras, À l'ombre des bananiers, Debaixo dos laranjais! En dessous des orangeraies!
Como são belos os dias Comme ils sont beaux les jours Do despontar da existência! De l'éveil de l'existence! - Respira a alma inocência - L'âme exhale l'innocense Como perfumes a flor; Comme la fleur les parfums; O mar é - lago sereno, La mer est - un lac serein, O céu - um manto azulado, Le ciel - un manteau azuré, O mundo - um sonho dourado, Le monde - un rêve doré, A vida - um hino d'amor! La vie - un hymne d'amour!
Ci-dessous, le beau poème en entier
MEUS OITO ANOS
Oh! Que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias Do despontar da existência! - Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é - lago sereno, O céu - um manto azulado, O mundo - um sonho dourado, A vida - um hino d'amor!
Que auroras, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d’estrelas, A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã. Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, De camisa aberto ao peito, - Pés descalços, braços nus - Correndo pelas campinas À roda das cachoeiras, Atrás das asas ligeiras Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava às Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo, Adormecia sorrindo E despertava a cantar!
Oh! Que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! - Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!
Casimiro de Abreu
Casimiro José Marques de Abreu poeta da segunda geração romântica brasileira, nasceu na Barra de São João, Estado do Rio de Janeiro, no dia 4 de janeiro de 1839. Era filho do rico comerciante português, José Joaquim Marques de Abreu e da brasileira Luísa Joaquina das Neves.
Em 1853 foi para Lisboa a fim de completar os estudos na área comercial. Foi nesse período de 4 anos na capital portuguesa que Casimiro de Abreu iniciou a sua carreira literária em contacto com os poetas românticos portugueses e adeptos do movimento do “Saudosismo”
Em Lisboa escreveu a maior parte de seus poemas. No dia 18 de janeiro de 1856, sua peça Camões e o Jau, que foi encenada no Teatro D. Fernando, em Lisboa foi recebida com aplausos pela imprensa portuguesa.
Em 1857, Casimiro de Abreu voltou ao Rio de Janeiro, e no Brasil terá começado a levar a vida de boémia que ele apreciava.
Infelizmente em 1860, tendo contraído a tuberculose, faleceu em plena juventude aos 21 anos.