des nouvelles, des articles de journalisme, et des pièces de théâtre
Accompagnons les flâneries de poètes de langue portugaise, les compositions de rimes, les pensées inquiètes ou riantes, de Fernando Pessoa, Luis de Camões, Florbela Espanca, António Nobre, Avelina Noronha, Manuel Fonseca... (o tradutor à direita da página poderá contribuir para uma melhor compreensão dos textos. Obrigada)
samedi 26 décembre 2020
Júlia Lopes de Almeida - "A laranjeira / l'oranger"
des nouvelles, des articles de journalisme, et des pièces de théâtre
jeudi 17 décembre 2020
Jeronimo Francisco de Lima
vendredi 27 novembre 2020
Joaquim Pessoa - "Tu ensinaste-me a fazer uma casa - Tu m'as appris à faire une maison"
née le 22 février 1948 à Barreiro (ville du Portugal)
com as mãos e os beijos.
Eu morei em ti e em ti meus versos procuraram
voz e abrigo.
E em ti guardei meu fogo e meu desejo. Construí
a minha casa.
Porém não sei já das tuas mãos. Os teus lábios perderam-se
entre palavras duras e precisas
que tornaram a tua boca fria
e a minha boca triste como um cemitério de beijos.
Mas recordo a sede unindo as nossas bocas
mordendo o fruto das manhãs proibidas
quando as nossas mãos surgiam por detrás de tudo
para saudar o vento.
E vejo teu corpo perfumando a erva
e os teus cabelos soltando revoadas de pássaros
que agora se recolhem, quando a noite se move,
nesta casa de versos onde guardo o teu nome.
Joaquim Pessoa, in 'Os Olhos de Isa'
Tu m'as appris à faire une maison:
avec les mains et les baisers.
J'ai vécu en toi et en toi mes vers ont cherché
voix et abri.
Et en toi j'ai gardé mon feu et mon désir. J'ai construit
ma maison.
Mais je ne sais plus où sont tes mains. Tes lèvres sont perdues
entre des mots durs et précis
qui ont rendu ta bouche froide
et ma bouche triste comme un cimetière de baisers.
Mais je me souviens de la soif qui unissait nos bouches
qui mordaient le fruit des matins interdits
quand nos mains apparaissaient de partout
pour saluer le vent.
Et je vois ton corps qui parfumait l'herbe
Et tes cheveux qui libéraient des volées d'oiseaux
qui maintenant se refugient, quand la nuit se déplace,
dans cette maison de vers où je garde ton nom.
jeudi 5 novembre 2020
Beatriz Brandão - "Voa, suspiro meu, vai diligente / Vole, mon soupir, va diligent"
Voa, suspiro meu, vai diligente,
Busca os Lares ditosos onde mora
O terno objeto, que minha alma adora,
Por quem tanta aflição meu peito sente.
Ao meu bem te avizinha docemente;
Não perturbes seu sono: nesta hora,
Em que a Amante fiel saudosa chora,
Durma talvez pacífico e contente.
Com os ares, que respira, te mistura;
Seu coração penetra; nele inspira
Sonhos de amor, imagens de ternura.
Apresenta-lhe a Amante, que delira;
Em seu cândido peito amor procura;
Vê se também por mim terno suspira.
Cherche les radieux lieux où vit
Le tendre objet, que mon âme adore,
Pour qui tant d'affliction ma poitrine ressent.
À mon bien-aimé, l'approche doucement;
Ne dérange pas son sommeil: à l'heure,
Où sa fidèle Amante de désir pleure,
Peut-être dort-il paisible et content.
Avec l'air, qu'il respire, va t'assembler;
Pénètre son coeur; en lui inspire
Des rêves d'amour, de douces pensées.
Présente-lui l'Amante, qui délire;
Dans sa candide poitrine l'amour elle cherche;
Vois aussi si pour moi, tendre il soupire.
Transcritos de publicações da internet, alguns detalhes da vida de Beatriz Brandão: Ou D. Beatriz, como assinava suas obras foi uma poetisa, música, colunista, professora e tradutora que viveu em Minas e no Rio de Janeiro nos séculos XVIII e XIX. Nascida em 29 de Julho de 1779, na cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto), a poeta era prima de Maria Doroteia de Seixas Brandão, a Marília de Dirceu; casou-se com o Alferes Vicente Baptista de Alvarenga e se lhe divorciou em 1839 pelo Juízo Eclesiástico, por ser vítima de maus tratos dele. A partir daí, ela se muda para o Rio de Janeiro, onde passa a publicar os poemas que sempre escrevera; contribuiu para os jornais Marmota Fluminense e Guanabara. Após publicar suas obras no Parnaso Brasileiro, ela as compila e publica um livro de poesia - Cantos da mocidade - e, em seguida, um segundo livro: Carta de Leandro a Hero, e Carta de Hero a Leandro, ambos no Parnaso Brasileiro. Ela morre em 05 de fevereiro de 1868, no Rio de Janeiro. É patrona da cadeira nº 38 da Academia Mineira de Letras. Et encore un deuxième sonnet de Beatriz Brandão: SONETO Que tens, meu coração? Porque ansioso Te sinto palpitar continuamente? Ora te abrasas em desejo ardente, Outra hora gelas triste e duvidoso? Uma vez te abalanças valeroso A suportar da ausência o mal veemente; Mas logo esmorecido, descontente, Abandonas o passo perigoso? Meu terno coração, ela, resiste, Não desmaies, não tremas; pode um dia Inda o Fado mudar o tempo triste. Suporta da saudade a tirania, Que ainda verás feliz, como já viste, Raiar a linda face da alegria. (Beatriz Brandão) |
samedi 31 octobre 2020
Poemes sur l'automne
ESQUEÇO-ME DAS HORAS TRANSVIADAS…
Esqueço-me das horas transviadas
o Outono mora mágoas nos outeiros
E põe um roxo vago nos ribeiros…
Hóstia de assombro a alma, e toda estradas…
Aconteceu-me esta paisagem, fadas
De sepulcros a orgíaco… Trigueiros
Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas…
No claustro sequestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia
Põe dias de ilhas vistas do convés
No meu cansaço perdido entre os gelos
E a cor do outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância…
Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”
Ruínas
Se é sempre Outono o rir das primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair…
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!
E deixa sobre as ruínas crescer heras.
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino de Quimeras!
Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais altos do que as águias pelo ar!
Sonhos que tombam! Derrocada louca!
São como os beijos duma linda boca!
Sonhos!… Deixa-os tombar… deixa-os tombar…
Florbela Espanca
Perdoa-me, folha seca, Pardonne-moi, feuille sèche,
não posso cuidar de ti. je ne peux prendre soin de toi.
Vim para amar neste mundo, Je suis venue au monde pour aimer,
e até do amor me perdi. et même l'amour je ne le trouve pas.
pelas areias do chão, sur les sables du sol,
se havia gente dormindo quand il y a des gens qui dormaient
sobre o próprio coração? sur leur propre coeur?
E não pude levantá-la! Et je n'ai pas pu la soulever!
Choro pelo que não fiz. Je pleure pour ce que je n'ai pas fait.
E pela minha fraqueza Et à cause de ma faiblesse
é que sou triste e infeliz. je suis triste et malheureuse.
Perdoa-me, folha seca! Pardonne-moi, feuille sèche!
Meus olhos sem força estão Mes yeux sans force
velando e rogando àqueles veillent et supplient ceux
que não se levantarão… qui ne se lèveront pas...
Tu és a folha de outono Tu es la feuille d'automne
voante pelo jardim. tournoyant dans le jardim.
Deixo-te a minha saudade Je te laisse mon désir
– a melhor parte de mim. - la meilleure partie de moi.
Certa de que tudo é vão. Dans la certitude que tout est en vain.
Que tudo é menos que o vento, Que tout est bien moins que le vent,
menos que as folhas do chão… moins que les feuilles sur le sol...
Crepúsculo de Outono
O crepúsculo cai, manso como uma benção.
Dir-se-á que o rio chora a prisão de seu leito…
As grandes mãos da sombra evangélicas pensam
As feridas que a vida abriu em cada peito.
O outono amarelece e despoja os lariços.
Um corvo passa e grasna, e deixa esparso no ar
O terror augural de encantos e feitiços.
As flores morrem. Toda a relva entra a murchar.
Os pinheiros porém viçam, e serão breve
Todo o verde que a vista espairecendo vejas,
Mais negros sobre a alvura unânime da neve,
Altos e espirituais como flechas de igrejas.
Um sino plange. A sua voz ritma o murmúrio
Do rio, e isso parece a voz da solidão.
E essa voz enche o vale…o horizonte purpúreo…
Consoladora como um divino perdão.
O sol fundiu a neve. A folhagem vermelha
Reponta. Apenas há, nos barrancos retortos,
Flocos, que a luz do poente extática semelha
A um rebanho infeliz de cordeirinhos mortos.
A sombra casa os sons numa grave harmonia.
E tamanha esperança e uma tão grande paz
Avultam do clarão que cinge a serrania,
Como se houvesse aurora e o mar cantando atrás.
Manoel Bandeira
lundi 19 octobre 2020
Afonso Celso - "Rosa / Rose"
Rosa
Rosa colhia sozinha Rose cueillait seuleLindas rosas no jardim De belles roses dans son jardin
E nas faces também tinha Et sur les joues elle avait aussi
Duas rosas de carmim. Deux roses de carmin.
Cheguei-me e disse-lhe: Rosa En la voyant je lui dis: Rose
Qual dessas rosas me dás? Laquelle de ces roses tu me donnerais?
As da face primorosa Celles de tes joues gracieuses
Ou essas que unindo estás?... Ou celles que tu es en train d'assembler?...
Ela fitou-me sorrindo, Elle me regarda en souriant,
Ainda mais enrubesceu; Et plus encore elle rougit;
Depois, ligeira fugindo, Puis, légère en s'éloignant,
De longe me respondeu: De loin elle me répondit:
"Não dou-te as rosas das faces "Les roses de mes joues je ne te donnerai
Nem as que tenho na mão: Ni celles que j'ai dans ma main:
Daria, se me estimasses, Je te donnerai, si tu m'estimes,
As rosas do coração." Les roses que j'ai dans mon coeur."
NA FAZENDA
Dorme
a fazenda. Uniformes,
Com seu inclinado teto,
Têm as senzalas o aspeto
De um bando d´aves enormes.
Os cães, no pátio encoberto,
Repousam de orelha erguida;
São como oásis de vida
Da escuridão no deserto.
De vagos tons uma enfiada
Com o torpor luta e vence-o;
É no burel do silêncio
Franja sonora bordada.
Às vezes, da porta estreita
Sai um chorar de criança,
Chamando a mãe que descansa
Morta do afã da colheita.
Talvez no infantil assombro
Já se lhe antolhe mais tarde:
— O eito enquanto o sol arde,
E o peso da enxada ao ombro.
Os cães levantam-se a meio,
Geme a criança um momento
E, a pouco e pouco, em lamento
Sucumbe o isolado anseio.
Longe, na sombra perdido,
Há no perfil de um oiteiro
Algo de estranho guerreiro
Da cota de armas vestido.
Ao lado reluz a linha
De extensa e alvacenta estrada,
Como a lâmina da espada
Que lhe saltou da bainha.
E o disco da lua nova
No lar azul das esferas,
De nuvens que lembram feras,
Como um réptil sai da cova.
Ondula no espaço o fumo
De algum incêndio invisível;
Chora a criança, impassível
Prossegue a noite em seu rumo.
Afonso Celso
(De Rimas de outr´ora,
1894)
mardi 13 octobre 2020
Leonor de Almeida - "Junto às margens de um rio / Au bord d'une rivière"
Com meus suspiros altercando,
A viva apreensão ia pintando
Passadas glórias no cristal luzente.
Mas quando nesta ideia mais contente
O coração se estava recreando,
Despenhou-se do peito o gosto brando,
Envolto com a rápida corrente.
Lá vão parar meus gostos no Oceano,
Ficando inanimado o peito e frio,
Que o recreio buscou só por seu dano.
Acabou-se o contente desvario,
E meus olhos saudosos do engano
Quase querem formar um novo rio.
Près des rives d'une rivière calmement
Avec mes soupirs qui se tiraillaient,
L'appréhension vivante qui dessinait
Les gloires passées sur le cristal brillant.
Mais lorsque dans ce mode plus complaisant
Le cœur se venait à recréer,
Le doux aloi de ma poitrine s'est échappé,
Enveloppé par le rapide courant.
Mes goûts dans l'Océan iront aboutir,
Ma poitrine devenant inanimée et gelée,
Que le délassement n'a cherchée que pour l'amoindrir.
Fini le joyeux enivrement,
Et mes yeux tristes de le voir finir
Veulent presque former un nouveau torrent.
vendredi 25 septembre 2020
Fernanda de Castro - "Meditação / Meditation"
Meditação (ma traduction d'amateur)
Fernanda de Castro
Às vezes, quando a noite vem caindo, Partois, lorsque tombe la nuit,
Tranquilamente, sossegadamente, Tranquilement, calmement,
Encosto-me à janela e vou seguindo Je m'appuie à la fenêtre et je suis
A curva melancólica do Poente. La courbe mélancolique du couchant.
Não quero a luz acesa. Na penumbra, Je ne veux pas de lumière. Dans la pénombre
Pensa-se mais e pensa-se melhor. On pense plus et on pense mieux.
A luz magoa os olhos e deslumbra, La lumère blesse les yeux et éblouit,
E eu quero ver em mim, ó meu amor! Et je veux voir em moi, oh mon amour!
Para fazer exame de consciência Pour l'examen de ma conscience
Quero silêncio, paz, recolhimento Je veux le silence, la paix, le recueillement
Pois só assim, durante a tua ausência, Car seulment ansi, pendant ton absence,
Consigo libertar o pensamento. Je parviens à libérer ma pensée.
Procuro então aniquilar em mim, J'essaie alors d'abolir en moi,
A nefasta influência que domina L'influence néfaste qui domine
Os meus nervos cansados; mas por fim, Mes nerfs fatigués; mais à la fin,
Reconheço que amar-te é minha sina. Je reconnais, que t'aimer est mon destin.
Longe de ti atrevo-me a pensar Loin de toi j'ose penser
Nesse estranho rigor que me acorrenta: À ce rigueur étrange qui m'emprisonne:
E tenho a sensação do alto mar, Et j'ai la sensation de la haute mer,
Numa noite selvagem de tormenta. Par nuit de tempête déchaînée.
Tens no olhar magias de profeta Tu as dans ton regard des magies de prophète
Que sabe ler no céu, no mar, nas brasas...Qui sait lire le ciel, la mer, les étincelles
Adivinhas... Serei a borboleta Tu devines... Je serais le papillon
Que vendo a luz deixa queimar as asas. Qui voyant la lumière se laisse brûler les ailes.
No entanto — vê lá tu!— Eu não lamento Pourtant - vois-tu! - Ni je réclame
Esta vontade que se impõe à minha... Contre cette volonté qui s'impose à la mienne...
Nem me revolto... cedo ao encantamento... Ni je me révolte... je cède à l'enchantement...
— Escrava que não soube ser Rainha! - Esclave qui n'a pas su être Reine!