samedi 26 décembre 2020

Júlia Lopes de Almeida - "A laranjeira / l'oranger"


(1862-1934)
écrivain et poète brésilienne, romancière de talent, Júlia a écrit aussi
des nouvelles, des articles de journalisme, et des pièces de théâtre

elle est la fille du Dr José Valentim José da Silveira  Lopes, 
elle épouse Filinto de Almeida, un jeune écrivain portugais, em 1887.
Le couple eut trois enfants qui sont tous devenus écrivains :
Afonso Lopes de Almeida 
Albano Lopes de Almeida 
Margarida Lopes de Almeida

Abolitionniste de grand renom, Júlia participa dans le groupe de création de 
l'académie brésilienne des Lettres

Júlia Lopes de Almeida nasceu a 24 Setembro 1862 (Brasil) 
Morreu em 30 Maio 1934
(Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil) 
Júlia Valentim da Silveira Lopes de Almeida foi uma escritora e abolicionista brasileira. 
Ela integrava o grupo de escritores e intelectuais que planejou a criação da Academia Brasileira de Letras

Filha do Dr. Valentim José da Silveira Lopes, professor e médico,
Valentim José da Silveira Lopes (Visconde de Valentim), nasceu em Lisboa, Portugal, em 1830.
Doutorou-se em medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia (1867), defendendo tese intitulada “Do Cholera”. Teatrólogo, naturalizado brasileiro, Professor de Humanidades em seu país de origem, 
Vice-cônsul de Portugal em Macaé (RJ). O título de Visconde era português

Júlia foi a esposa do escritor português Filinto de Almeida.
Foi mãe dos também escritores Afonso Lopes de Almeida, Albano Lopes de Almeida e Margarida Lopes de Almeida.


A LARANJEIRA

Perfumada laranjeira,
Linda assim dessa maneira
Sorrindo à luz do arrebol,
Toda em flores, branca toda
- Parece a noiva do Sol
Preparada para a boda.

E esposa do Sol, que a adora,
Com que cuidados divinos
Curva ela os ramos, agora!
E entre as folhas abrigados,
Seus filhos, frutos dourados,
Parecem sois pequeninos.

 Júlia Lopes de Almeida


(avec ma traduction d'amateur)

Oranger parfumé,
Si beau de cette manière,
Qui souris à la subsistante lumière
Tout en fleur,  tout en blanc
- Qu'on dirait la fiancée du soleil
Pour la noce  préparée.

Et l'épouse du Soleil, qui l'adore,
Avec quels soins divins
Plie-t-elle ses branches, maintenant!
Et parmi les feuilles abrités,
Ses enfants, les fruits dorés,
Ressemblent à des petits soleils.



jeudi 17 décembre 2020

Jeronimo Francisco de Lima



Je vous invite aujourd'hui à écouter un extrait de la pièce "Dal furor, dal oddio" - du compositeur portugais Jerónimo Francisco de Lima - 
chantée par la soprano portugaise Sandra Medeiros, accompagnée par le pianiste Francisco Sassetti.

Jerónimo Francisco de Lima (Lisboa, 30 de setembro de 1743 - 19 de fevereiro de 1822) foi um compositor português.

"Dal furor, dal oddio"  
Jerónimo Francisco de Lima (1743-1822) Aria "Dal furor dall'odio accesa" 
(from opera Teseo, Medea) * Da Capo 
Sandra Medeiros, soprano Francisco Sassetti, piano

Jerónimo Francisco de Lima após estudos no Seminário da Patriarcal de Lisboa de 1761 a 1767, foi para Nápoles, onde se formou musicalmente no Conservatório de Sant'Onofrio Porta Capuana.
Regressou a Lisboa, foi nomeado organista e maestro do Seminário Patriarcal, em que começou a compor, especialmente serenatas dramas e música a ser cantada na corte portuguesa.

vendredi 27 novembre 2020

Joaquim Pessoa - "Tu ensinaste-me a fazer uma casa - Tu m'as appris à faire une maison"

"Tu m'as appris à faire une maison", je vous présente un poème du poète portugais Joaquim Pessoa.

née le 22 février 1948 à Barreiro (ville du Portugal)

image du net

Tu Ensinaste-me a Fazer uma Casa

Tu ensinaste-me a fazer uma casa:
com as mãos e os beijos.
Eu morei em ti e em ti meus versos procuraram
voz e abrigo.
E em ti guardei meu fogo e meu desejo. Construí
a minha casa.
Porém não sei já das tuas mãos. Os teus lábios perderam-se
entre palavras duras e precisas
que tornaram a tua boca fria
e a minha boca triste como um cemitério de beijos.

Mas recordo a sede unindo as nossas bocas
mordendo o fruto das manhãs proibidas
quando as nossas mãos surgiam por detrás de tudo
para saudar o vento.

E vejo teu corpo perfumando a erva
e os teus cabelos soltando revoadas de pássaros
que agora se recolhem, quando a noite se move,
nesta casa de versos onde guardo o teu nome.

Joaquim Pessoa, in 'Os Olhos de Isa'


Tu m'as appris à faire une maison

Tu m'as appris à faire une maison:
avec les mains et les baisers.
J'ai vécu en toi et en toi mes vers ont cherché
voix et abri.
Et en toi j'ai gardé mon feu et mon désir. J'ai construit
ma maison.
Mais je ne sais plus où sont tes mains. Tes lèvres sont perdues
entre des mots durs et précis
qui ont rendu ta bouche froide
et ma bouche triste comme un cimetière de baisers.

Mais je me souviens de la soif qui unissait nos bouches
qui mordaient le fruit des matins interdits
quand nos mains apparaissaient de partout 
pour saluer le vent.

Et je vois ton corps qui  parfumait l'herbe
Et tes cheveux qui libéraient des volées d'oiseaux
qui maintenant se refugient, quand la nuit se déplace,
dans cette maison de vers où je garde ton nom.


image du net
Joaquim Maria Pessoa (Barreiro, 22 de fevereiro de 1948), conhecido por Joaquim Pessoa, é um poeta, artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica português.



jeudi 5 novembre 2020

Beatriz Brandão - "Voa, suspiro meu, vai diligente / Vole, mon soupir, va diligent"

Beatriz Francisca de Assis Brandão 
(Ouro Preto, 1779 — Rio de Janeiro, 1868)
fille du sargent-major Francisco Sanches Brandão et de Isabel Feliciana Narcisa de Seixas,
image du net

poètesse, traductrice, musicienne et éducatrice, née au Brésil pendant la période coloniale.
C'est son arrière grand-père Francisco Sanches Brandão qui avait quitté la ville de Porto, au Portugal, pour aller vivre au Brésil. 

"Sonnet"

Voa, suspiro meu, vai diligente,
Busca os Lares ditosos onde mora
O terno objeto, que minha alma adora,
Por quem tanta aflição meu peito sente.

Ao meu bem te avizinha docemente;
Não perturbes seu sono: nesta hora,
Em que a Amante fiel saudosa chora,
Durma talvez pacífico e contente.

Com os ares, que respira, te mistura;
Seu coração penetra; nele inspira
Sonhos de amor, imagens de ternura.

Apresenta-lhe a Amante, que delira;
Em seu cândido peito amor procura;
Vê se também por mim terno suspira.

(Beatriz Brandão)

J'ai fait la traduction en amateur, de ce sonnet aux empreintes de lyrisme Romantique, où les sentiments de l'amour sont à l'honneur:


Vole, mon soupir, va diligent, 
Cherche les radieux lieux où vit 
Le tendre objet, que mon âme adore, 
Pour qui tant d'affliction ma poitrine ressent. 

À mon bien-aimé, l'approche doucement; 
Ne dérange pas son sommeil: à l'heure, 
Où sa fidèle Amante de désir pleure, 
Peut-être dort-il paisible et content. 

Avec l'air, qu'il respire, va t'assembler; 
Pénètre son coeur; en lui inspire
Des rêves d'amour, de douces pensées. 

Présente-lui l'Amante, qui délire; 
Dans sa candide poitrine l'amour elle cherche; 
Vois aussi si pour moi, tendre il soupire.



Transcritos de publicações da internet, alguns detalhes da vida de Beatriz Brandão:

Beatriz Francisca de Assis Brandão 
Ou D. Beatriz, como assinava suas obras foi uma poetisa, música, colunista, professora e tradutora que viveu em Minas e no Rio de Janeiro nos séculos XVIII e XIX.
Nascida em 29 de Julho de 1779, na cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto), a poeta era prima de Maria Doroteia de Seixas Brandão, a Marília de Dirceu; 
casou-se com o Alferes Vicente Baptista de Alvarenga e se lhe divorciou em 1839 pelo Juízo Eclesiástico, por ser vítima de maus tratos dele. 
A partir daí, ela se muda para o Rio de Janeiro, onde passa a publicar os poemas que sempre escrevera; contribuiu para os jornais Marmota Fluminense e Guanabara. Após publicar suas obras no Parnaso Brasileiro, ela as compila e publica um livro de poesia - Cantos da mocidade - e, em seguida, um segundo livro: Carta de Leandro a Hero, e Carta de Hero a Leandro, ambos no Parnaso Brasileiro. Ela morre em 05 de fevereiro de 1868, no Rio de Janeiro. É patrona da cadeira nº 38 da Academia Mineira de Letras.


Et encore un deuxième sonnet de Beatriz Brandão:


SONETO

Que tens, meu coração? Porque ansioso
Te sinto palpitar continuamente?
Ora te abrasas em desejo ardente,
Outra hora gelas triste e duvidoso?

Uma vez te abalanças valeroso
A suportar da ausência o mal veemente;
Mas logo esmorecido, descontente,
Abandonas o passo perigoso?

Meu terno coração, ela, resiste,
Não desmaies, não tremas; pode um dia
Inda o Fado mudar o tempo triste.


Suporta da saudade a tirania,
Que ainda verás feliz, como já viste,
Raiar a linda face da alegria.

(Beatriz Brandão)

samedi 31 octobre 2020

Poemes sur l'automne

L'automne inspire les poètes à écrire sur leurs sentiments devant la beauté de cette saison. Les feuilles et le ciel se teintent d'une magnifique palette de couleurs automnales. 

A estação das folhas que o outono pinta de vermelho, laranja, amarelo, inspira os poetas a escreverem sobre a beleza destes dias! 


ESQUEÇO-ME DAS HORAS TRANSVIADAS…

Esqueço-me das horas transviadas
o Outono mora mágoas nos outeiros
E põe um roxo vago nos ribeiros…
Hóstia de assombro a alma, e toda estradas…

Aconteceu-me esta paisagem, fadas
De sepulcros a orgíaco… Trigueiros
Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas…

No claustro sequestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia
Põe dias de ilhas vistas do convés

No meu cansaço perdido entre os gelos
E a cor do outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância…


Fernando Pessoa, in “Cancioneiro” 

Né en 1888 à Lisbonne, mort en 1935, Fernando Pessoa a vécu 6 ans à Durban où il acquiert une parfaite connaissance de la langue anglaise. Tout en exerçant une activité de fonctionnaire à Lisbonne, il s’adonne à la poésie. L’amplitude de son œuvre lui vaut d’être considéré comme l’un des plus grands poètes de ce siècle. 

“...Les hétéronymes les plus connus sont ceux que Pessoa a présenté au cours de sa vie, en publiant quelques-unes de leurs œuvres, et ce sont les plus structurés. Il s’agit des poètes Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, auxquels s’ajoute Bernardo Soares, le semi-hétéronyme (celui qui ressemble le plus au style de Pessoa orthonyme)...” 

Fernando Pessoa (Lisboa, 13 de junho de 1888 — Lisboa, 30 de novembro de 1935) foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário, comentarista político. 
Fernando Pessoa é o mais universal poeta português.


Ruínas

Se é sempre Outono o rir das primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair…
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!

E deixa sobre as ruínas crescer heras.
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino de Quimeras!

Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais altos do que as águias pelo ar!

Sonhos que tombam! Derrocada louca!
São como os beijos duma linda boca!
Sonhos!… Deixa-os tombar… deixa-os tombar…

Florbela Espanca



Florbela Espanca (8 décembre 1894- 8 décembre 1930), nom de baptême : Flor Bela de Alma da Conceição, est une des plus grandes poétesses portugaises. Elle naît le 8 décembre 1894 à Vila Viçosa (en Alentejo).


"..Florbela Espanca (Vila Viçosa, 8 de dezembro de 1894Matosinhos, 8 de dezembro de 1930), batizada como Flor Bela Lobo, e que opta por se autonomear Florbela d'Alma da Conceição Espanca,  foi uma poetisa portuguesa. A sua vida, de apenas 36 anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos, que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo.."



um poème de Cecília Meireles avec ma traduction d'amateur (en rouge)

Canção de Outono                          Chanson de l'automne

Perdoa-me, folha seca,                            Pardonne-moi, feuille sèche,
não posso cuidar de ti.                            je ne peux prendre soin de toi.
Vim para amar neste mundo,                  Je suis venue au monde pour aimer,
e até do amor me perdi.                          et même l'amour je ne le trouve pas.                   

De que serviu tecer flores                              À quoi cela sert-il de tisser des fleurs 
pelas areias do chão,                                      sur les sables du sol,
se havia gente dormindo                                quand il y a des gens qui dormaient
sobre o próprio coração?                                sur leur propre coeur?            

E não pude levantá-la!                            Et je n'ai pas pu la soulever!
Choro pelo que não fiz.                           Je pleure pour ce que je n'ai pas fait.
E pela minha fraqueza                            Et à cause de ma faiblesse
é que sou triste e infeliz.                         je suis triste et malheureuse.             
Perdoa-me, folha seca!                           Pardonne-moi, feuille sèche!
Meus olhos sem força estão                    Mes yeux sans force 
velando e rogando àqueles                      veillent et supplient ceux
que não se levantarão…                          qui ne se  lèveront pas...

Tu és a folha de outono                          Tu es la feuille d'automne
voante pelo jardim.                                 tournoyant dans le jardim.
Deixo-te a minha saudade                       Je te laisse mon désir
– a melhor parte de mim.                        - la meilleure partie de moi.
Certa de que tudo é vão.                          Dans la certitude que tout est en vain.
Que tudo é menos que o vento,               Que tout est bien moins que le vent, 
menos que as folhas do chão…                moins que les feuilles sur le sol...

Cecília Meireles



"...Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 – Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma jornalista, pintora, poeta, escritora e professora brasileira. É um nome canônico do modernismo brasileiro, uma das grandes poetas da língua portuguesa e é amplamente considerada a melhor poeta do Brasil, embora tenha combatido a palavra poetisa por causa da discriminação de gênero..."




Crepúsculo de Outono

O crepúsculo cai, manso como uma benção.
Dir-se-á que o rio chora a prisão de seu leito…
As grandes mãos da sombra evangélicas pensam
As feridas que a vida abriu em cada peito.

O outono amarelece e despoja os lariços.
Um corvo passa e grasna, e deixa esparso no ar
O terror augural de encantos e feitiços.
As flores morrem. Toda a relva entra a murchar.

Os pinheiros porém viçam, e serão breve
Todo o verde que a vista espairecendo vejas,
Mais negros sobre a alvura unânime da neve,
Altos e espirituais como flechas de igrejas.

Um sino plange. A sua voz ritma o murmúrio
Do rio, e isso parece a voz da solidão.
E essa voz enche o vale…o horizonte purpúreo…
Consoladora como um divino perdão.

O sol fundiu a neve. A folhagem vermelha
Reponta. Apenas há, nos barrancos retortos,
Flocos, que a luz do poente extática semelha
A um rebanho infeliz de cordeirinhos mortos.

A sombra casa os sons numa grave harmonia.
E tamanha esperança e uma tão grande paz
Avultam do clarão que cinge a serrania,
Como se houvesse aurora e o mar cantando atrás.

Manoel Bandeira 


Manuel Bandeira, né le 19 avril 1886 à Recife et mort le 13 octobre 1968 à Rio de Janeiro, est un poète, enseignant et écrivain brésilien.

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 19 de abril de 1886 — Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. 



Avec quelques unes de mes photos, en visite au Parc Municipal de Loulé (balade d'automne).






lundi 19 octobre 2020

Afonso Celso - "Rosa / Rose"

Afonso Celso
Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior, poète, historien, écrivain célèbre, juriste, homme politique brésilien (Ouro Preto 1860 - Rio de Janeiro1938), fils du vicomte de Ouro Preto.
C'est son grand-père portugais, João António Afonso, qui avait quitté le Portugal pour le Brésil, et était devenu brésilien.
Afonso Celso fut membre co-fondateur de l'Académie brésilienne des lettres et fut un grand défenseur de l'abolition de l'esclavage et du régime républicain.

"...Avec la proclamation de la république en novembre 1889, Afonso Celso résolut, par solidarité avec son père, et quoiqu’ayant pris une part active aux campagnes abolitionnistes et républicaines, d’accompagner son père sur le chemin de l’exil, à la suite du départ de la famille impériale pour le Portugal...Revenu au Brésil en 1892, Afonso Celso abandonna la politique pour se vouer à son métier d’avocat, à l’enseignement du droit, aux belles lettres et au journalisme...

Je vous présente deux poèmes de ce grand poète et homme de lettres brésilien (avec ma traduction d'amateur).


 Rosa 

Rosa colhia sozinha                                 Rose cueillait seule 
Lindas rosas no jardim
                         De belles roses dans son jardin 
E nas faces também tinha
                    Et sur les joues elle avait aussi
Duas rosas de carmim. 
                        Deux roses de carmin.

Cheguei-me e disse-lhe: Rosa
            En la voyant je lui dis: Rose
Qual dessas rosas me dás?
                  Laquelle de ces roses tu me donnerais? 
As da face primorosa
                            Celles de tes joues gracieuses
Ou essas que unindo estás?...
            Ou celles que tu es en train d'assembler?...

Ela fitou-me sorrindo,
                         Elle me regarda en souriant, 
Ainda mais enrubesceu;
                     Et plus encore elle rougit;
Depois, ligeira fugindo, 
                      Puis, légère en s'éloignant, 
De longe me respondeu:
                     De loin elle me répondit:

"Não dou-te as rosas das faces
        "Les roses de mes joues je ne te donnerai 
Nem as que tenho na mão:
                Ni celles que j'ai dans ma main: 
Daria, se me estimasses,
                     Je te donnerai, si tu m'estimes,                   
As rosas do coração."                            Les roses que j'ai dans mon coeur."

Afonso Celso 



NA FAZENDA

Dorme a fazenda. Uniformes,
Com seu inclinado teto,
Têm as senzalas o aspeto
De um bando d´aves enormes.

Os cães, no pátio encoberto,
Repousam de orelha erguida;
São como oásis de vida
Da escuridão no deserto.

De vagos tons uma enfiada
Com o torpor luta e vence-o;
É no burel do silêncio
Franja sonora bordada.

Às vezes, da porta estreita
Sai um chorar de criança,
Chamando a mãe que descansa
Morta do afã da colheita.

Talvez no infantil assombro
Já se lhe antolhe mais tarde:
— O eito enquanto o sol arde,
E o peso da enxada ao ombro.

Os cães levantam-se a meio,
Geme a criança um momento
E, a pouco e pouco, em lamento
Sucumbe o isolado anseio.

Longe, na sombra perdido,
Há no perfil de um oiteiro
Algo de estranho guerreiro
Da cota de armas vestido.

Ao lado reluz a linha
De extensa e alvacenta estrada,
Como a lâmina da espada
Que lhe saltou da bainha.

E o disco da lua nova
No lar azul das esferas,
De nuvens que lembram feras,
Como um réptil sai da cova.

Ondula no espaço o fumo
De algum incêndio invisível;
Chora a criança, impassível
Prossegue a noite em seu rumo.

Afonso Celso 

         (De Rimas de outr´ora, 1894)

mardi 13 octobre 2020

Leonor de Almeida - "Junto às margens de um rio / Au bord d'une rivière"

Leonor de Almeida Portugal, Marquise d'Alorna  (image Wikipedia)

Je vous invite à faire la connaissance d'une femme de lettres et poétesse portugaise, née au 18e siècle: 
Leonor de Almeida (pseudonyme: Alcipe).
Cette poétesse appartenait à la noblesse portugaise. Grand nombre de ses oeuvres ont été rédigées lorsqu'elle a vécu dans le couvent de Chelas (à Lisbonne) où elle est rentrée à l'âge de 8 ans, en même temps que sa soeur de 6 ans, après que son père ait été acccusé d'avoir participé à un attentat contre le roi. 
Elle en sortit en 1777, au bout de 18 ans.
Selon plusieurs publications, durant ces années au couvent, Leonor aura étudié les oeuvres de Rousseau, Gray, Young, Corneille et Racine entre autres, dont elle traduisait les écrits. Elle apprit l'allemand, l'anglais, l'italien, le français, le latin et l'arabe.

Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre, Marquesa de Alorna,
(São Jorge de Arroios, Lisboa, 31 de outubro de 1750 — Coração de Jesus, Lisboa, 11 de outubro de 1839) foi uma nobre e poetisa portuguesa.
Era filha de D. João de Almeida Portugal, segundo marquês de Alorna e quinto conde de Assumar. 
Tendo o seu pai sido preso, acusado de participar no atentado ao rei D. José, Leonor, de oito anos, entrou com sua irmã para o convento de Chelas, vindo somente a sair após a morte do Marquês de Pombal. 
Casou en 1779 com o Conde de Oeynhausen e viajou por Viena, Berlim e Londres. Enviuvou aos 43 anos de idade, vivendo com algumas dificuldades económicas, dificuldades estas que não a impediram de se dedicar à literatura. 
Adoptou na Arcádia o nome de Alcipe. Traduziu a Arte Poética de Horácio e o Ensaio sobre a Crítica de Pope. É considerada uma poetisa pré-romântica. As suas obras foram publicadas em 1844 em seis volumes com o título genérico de Obras Poéticas. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/alorna.htm

Me voici à la recherche des poèmes de la Marquise d'Alorna!
Como está sereno o céu,
como sobe mansamente
a Lua resplandecente
e esclarece este jardim!

Os ventos adormeceram;
das frescas águas do rio
interrompe o murmúrio
de longe o som de um clarim.

Acordam minhas ideias,
que abrangem a Natureza;
e esta nocturna beleza
vem meu estro incendiar.

Mas, se à lira lanço a mão,
apagadas esperanças
me apontam cruéis lembranças,
e choro em vez de cantar.

Leonor de Almeida


Junto às margens de um rio 

Junto às margens de um rio docemente
Com meus suspiros altercando,
A viva apreensão ia pintando
Passadas glórias no cristal luzente.

Mas quando nesta ideia mais contente
O coração se estava recreando,
Despenhou-se do peito o gosto brando,
Envolto com a rápida corrente.

Lá vão parar meus gostos no Oceano,
Ficando inanimado o peito e frio,
Que o recreio buscou só por seu dano.

Acabou-se o contente desvario,
E meus olhos saudosos do engano
Quase querem formar um novo rio.

Leonor de Almeida

Avec ma traduction d'amateur:

Près des rives d'une rivière calmement
Avec mes soupirs qui se tiraillaient,
L'appréhension vivante qui dessinait
Les gloires passées sur le cristal brillant.

Mais lorsque dans ce mode plus complaisant 
Le cœur se venait à recréer,
Le doux aloi de ma poitrine s'est échappé,
Enveloppé par le rapide courant.

Mes goûts dans l'Océan iront aboutir,
Ma poitrine devenant inanimée et gelée,
Que le délassement n'a cherchée que pour l'amoindrir.

Fini le joyeux enivrement,
Et mes yeux tristes de le voir finir
Veulent presque former un nouveau torrent.




vendredi 25 septembre 2020

Fernanda de Castro - "Meditação / Meditation"


Fernanda de Castro (1900-1994) 

née à Lisbonne en 1900 et décédée dans la même ville en 1994, elle était écrivain, traductrice, poétesse portugaise.
Fernanda de Castro a consacré "une grande partie de son œuvre littéraire à la littérature destinée aux enfants et aux jeunes ... ayant fondé l'Association nationale des terrains de jeux, une initiative peut-être due au fait qu'elle était, depuis 1922, mariée avec António Ferro lui-même lié aux mouvements du pouvoir politique..."


Elle a été, avec son mari et d'autres, fondatrice de la Société portugaise des écrivains et compositeurs de théâtre.
Dans sa maison du "Bairro Alto" (à Lisbonne) les rencontres littéraires étaient connues, toujours ouvertes à la nouveauté et à une certaine hétérodoxie.
En tant qu'écrivain, elle se consacra à la traduction de pièces de théâtre, à l'écriture de poésie, de romance, de fiction et de théâtre.


Fernanda de Castro 
(1900-1994)

Maria Fernanda Teles de Castro de Quadros Ferro foi uma escritora, poetisa, escritora, tradutora portuguesa
"...dedicou grande parte do seu labor literário à literatura destinada à infância e juventude ….tendo fundado a Associação Nacional de Parques Infantis, facto a que não seria alheio o ser casada, desde 1922, com António Ferro, que, nos anos trinta, se movimenta nas áreas do poder político…." 
Foi juntamente com o marido e outros, fundadora da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses
São conhecidas as tertúlias que reunia na sua casa do Bairro Alto, sempre aberta à novidade e a uma certa heterodoxia.
Como escritora, dedicou-se à  tradução de peças de teatro, a escrever poesia, romance, ficção e teatro. 


Meditação                                                (ma traduction d'amateur)

Fernanda de Castro

Às vezes, quando a noite vem caindo,       Partois, lorsque tombe la nuit,
Tranquilamente, sossegadamente,            Tranquilement, calmement,              
Encosto-me à janela e vou seguindo         Je m'appuie à la fenêtre et je suis
A curva melancólica do Poente.                 La courbe mélancolique du couchant.

Não quero a luz acesa. Na penumbra,       Je ne veux pas de lumière. Dans la pénombre
Pensa-se mais e pensa-se melhor.            On pense plus et on pense mieux.
A luz magoa os olhos e deslumbra,           La lumère blesse les yeux et éblouit,    
E eu quero ver em mim, ó meu amor!        Et je veux voir em moi, oh mon amour!     

Para fazer exame de consciência              Pour l'examen de ma conscience
Quero silêncio, paz, recolhimento             Je veux le silence, la paix, le recueillement
Pois só assim, durante a tua ausência,     Car seulment ansi, pendant ton absence,
Consigo libertar o pensamento.                 Je parviens à libérer ma pensée.

Procuro então aniquilar em mim,                J'essaie alors d'abolir en moi,
A nefasta influência que domina                 L'influence néfaste qui domine
Os meus nervos cansados; mas por fim,    Mes nerfs fatigués; mais à la fin,
Reconheço que amar-te é minha sina.       Je reconnais, que t'aimer est mon destin.

Longe de ti atrevo-me a pensar                   Loin de toi j'ose penser
Nesse estranho rigor que me acorrenta:     À ce rigueur étrange qui m'emprisonne: 
E tenho a sensação do alto mar,                 Et j'ai la sensation de la haute mer,
Numa noite selvagem de tormenta.             Par nuit de tempête déchaînée.

Tens no olhar magias de profeta                Tu as dans ton regard des magies de prophète
Que sabe ler no céu, no mar, nas brasas...Qui sait lire le ciel, la mer, les étincelles
Adivinhas... Serei a borboleta                     Tu devines... Je serais le papillon
Que vendo a luz deixa queimar as asas.    Qui voyant la lumière se laisse brûler les ailes.

No entanto — vê lá tu!— Eu não lamento    Pourtant - vois-tu! - Ni je réclame
Esta vontade que se impõe à minha...         Contre cette volonté qui s'impose à la mienne...
Nem me revolto... cedo ao encantamento... Ni je me révolte... je cède à l'enchantement...
— Escrava que não soube ser Rainha!        -  Esclave qui n'a pas su être Reine!

Meditação 
Poema de Fernanda De Castro com narração de Mundo De Poemas 
Publié par Mundo Dos Poemas •26/07/2020

O Segredo É Amar 
Poema de Fernanda de Castro com narração de Mundo Dos Poemas 
Publié par Mundo Dos Poemas •21/08/2020

O segredo é amar
Fernanda de Castro

O segredo é amar. Amar a Vida
com tudo o que há de bom e mau em nós.
Amar a hora breve e apetecida,
ouvir os sons em cada voz

e ver todos os céus em cada olhar.

Amar por mil razões e sem razão.
Amar, só por amar,
com os nervos, o sangue, o coração.
Viver em cada instante a eternidade
e ver, na própria sombra, claridade.

O segredo é amar, mas amar com prazer,
sem limites, fronteiras, horizonte.
Beber em cada fonte,
florir em cada flor,
nascer em cada ninho,
sorver a terra inteira como o vinho.

Amar o ramo em flor que há-de nascer,
de cada obscura, tímida raiz.
Amar em cada pedra, em cada ser,
S. Francisco de Assis.

Amar o tronco, a folha verde,
amar cada alegria, cada mágoa,
pois um beijo de amor jamais se perde
e cedo refloresce em pão, em água!

Fernanda de Castro, in "Trinta e Nove Poemas"


Alma Serena 
Poema de Fernanda de Castro com narração de Mundo Dos Poemas 
Publié par Mundo Dos Poemas .31/07/2020


Alma serena
Fernanda de Castro

Alma serena, a consciência pura,
assim eu quero a vida que me resta.
Saudade não é dor nem amargura, 
dilui-se ao longe a derradeira festa.

Não me tentam as rotas da aventura,
agora sei que a minha estrada é esta: 
difícil de subir, áspera e dura,
mas branca a urze, de oiro puro a giesta. 

Assim meu canto fácil de entender,
como chuva a cair, planta a nascer, 
como raiz na terra, água corrente.

Tão fácil o difícil verso obscuro!
Eu não canto, porém, atrás dum muro, 
eu canto ao sol e para toda a gente.

J'espère que les poèmes de Fernanda de Castro vous plairont:)
Espero que gostem de ler e ou ouvir os poemas desta poetisa portugesa.