Pausa deste blog

dimanche 21 février 2021

Fernando Pessoa - "A última nau - le dernier bateau"


Fernando Pessoa, l'illustre poète portugais (1888-1935), poète universel de par son oeuvre immense
Le poème qui suit, rappelle l'épisode tragique de la mort du jeune roi portugais Sébastien 1er partit combattre les maures.  Disparu lors de la bataille des Trois Rois (Alcácer-Quibir),
ce désastre provoca une grande crise de succession car Sébastien 1er est mort sans laisser d'héritier. Un des candidats au trône fut le puissant roi d'Espagne (petit fils du roi portugais Manuel 1er) qui, prenant le pouvoir à Lisbonne, donna lieu à l'Union Ibérique.
La croyance du peuple portugais basé sur la légende que le roi avait échappé à la mort, fit croître le "sébastianisme" et l'espoir d'un retour du souverain qui devrait revenir "lors d'un matin de brouillard" pour normaliser la situation du pays.


A última nau

Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério.

Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projeta-o, sonho escuro
E breve.

Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou ’spaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.

Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.

Fernando Pessoa em "Mensagem"



Ma traduction d'amateur:

Le dernier bateau

Emportant à son bord le Roi Dom Sebastião,
Et en hissant, comme un nom, haut, l’étendard
De l'Empire,
Partit le dernier bateau, sous le soleil amère
Errant, parmi les cris d’angoisse et de prophétique
Mystère.

Il n'est pas revenu. 
A quelle île inconnue
A-t-il accosté? Reviendra-t-il du sort incertain
Qu'il a connu?
Dieu se réserve le corps et la forme du futur,
Mais Sa lumière se projecte, rêve sombre
Et court.


Ah, plus l'âme au peuple faiblit,
Plus mon âme atlantique se raffermit
Et se répand,
Et en moi, dans un océan qui n'a ni de temps ni d'espace,
Je vois entre le brouillard ta silhouette blême
Revenant.

Je ne sais pas l’heure, mais je sais qu'il y a l’heure,
Que Dieu la retarde, l’appelle l’âme partante
Mystère
Tu surgis  au soleil en moi, et la brume part:

La même, et de l'Empire tu portes encore
L'étendard.






lundi 15 février 2021

Vicente de Carvalho - Palavras ao mar / Paroles a la mer



"O poeta do mar", 

Vicente de Carvalho, poète brésilien, a été appelé le poète de la mer.
Le poète est né dans une ville côtière, et son oeuvre exprime de forts sentiments liés à l'activité et à l'enchantement de la mer.

Vicente Augusto de Carvalho (1866 - 1924) foi um advogado, jornalista, político, abolicionista, fazendeiro, deputado, magistrado, poeta e contista brasileiro. Nasceu numa tradicional família santista. Pelo lado paterno vinha uma linhagem militar, com seu avô capitão de milícias e seu pai o Major Higino José Botelho de Carvalho.
Considerado o maior poeta lírico do Brasil, foi também redator do Diário de Santos e fundador do Diário da Manhã. Foi candidato a deputado provincial no Congresso Republicano no ano de 1887, deputado no Con­gresso Constituinte do Estado, defensor do abolicionismo e da república.

Palavras ao Mar - Vicente de Carvalho 
Publié par ArtefatoculturalTV . 20 nov. 2008


J'ai beaucoup aimé ce long poème qu'il a appelé "Paroles à la mer" et dont je traduis (en amateur) les premiers vers

PALAVRAS AO MAR


Mar, belo mar selvagem                                        Mer, belle mer sauvage
Das nossas praias solitárias! Tigre                        De nos plages solitaires! Le tigre
A que as brisas da terra o sono embalam,            Dont les brises de la terre bercent le sommeil,
A que o vento do largo eriça o pelo!                      Dont le vent du large soulève la fourrure!
Junto da espuma com que as praias bordas,        Près de l'écume dont tu bordes les plages,
Pelo marulho acalentada, à sombra                      Par la houle attiédie, à l'ombre  
Das palmeiras que arfando se debruçam              Des palmiers qui se penchent essouflés
Na beirada das ondas – a minha alma                 Au bord des vagues -  mon âme
Abriu-se para a vida como se abre                        S'est ouverte à la vie comme s'ouvre
A flor da murta para o sol do estio.                        La fleur de myrte au soleil de l'été.



Quando eu nasci, raiava                                         Quand je suis né,  le mois clair
O claro mês das garças forasteiras:                       Des hérons apatrides  débutait:
Abril, sorrindo em flor pelos outeiros,                     Avril, souriait en fleur sur les collines,         
Nadando em luz na oscilação das ondas,             Nageant lumineux dans l'ocillation des vagues,
Desenrolava a primavera de ouro;                         Le printemps d'or il dépliait;                          
E as leves garças, como folhas soltas                   Et les hérons légers, comme des feuilles éparses
Num leve sopro de aura dispersadas,                    Dans un léger souffle de brise dispersées,      
Vinham do azul do céu turbilhonando                    Venaient de l'azur du ciel en tourbillonnant
Pousar o voo à tona das espumas…                      Poser leur envol au-dessus des écumes...

É o tempo em que adormeces
Ao sol que abrasa: a cólera espumante,
Que estoura e brame sacudindo os ares,
Não os saco de mais, nem brame e estoura;
Apenas se ouve, tímido e plangente,
O teu murmúrio; e pelo alvor das praias,
Langue, numa carícia de amoroso,
As largas ondas marulhando estendes…

Ah! vem daí por certo
A voz que escuto em mim, trêmula e triste,
Este marulho que me canta na alma,
E que a alma jorra desmaiado em versos;
De ti, de tu unicamente, aquela
Canção de amor sentida e murmurante
Que eu vim cantando, sem saber se a ouvia,
Pela manhã de sol dos meus vinte anos.

O velho condenado, ao cárcere
das rochas que te cingem!
Em vão levantas para o céu distante
Os borrifos das ondas desgrenhadas.
Debalde! O céu, cheio de sol se é dia,
Palpitante de estrelas quando é noite,
Paira, longínquo e indiferente, acima
Da tua solidão, dos teus clamores…

Condenado e insubmisso
Como tu mesmo, eu sou como tu mesmo
Uma alma sobre a qual o céu resplende
– Longínquo céu – de um esplendor distante.
Debalde, o mar que em ondas te arrepelas,
Meu tumultuoso coração revolto
Levanta para o céu como borrifos,
Toda a poeira de ouro dos meus sonhos.

Sei que a ventura existe,
Sonho-a; sonhando a vejo, luminosa.
Como dentro da noite amortalhado
Vês longe o claro bando das estrelas;
Em vão tento alcançá-la, e as curtas asas
Da alma entreabrindo, subo por instantes…
O mar! A minha vida é como as praias,
E o sonho morre como as ondas voltam!

Mar, belo mar selvagem
Das nossas praias solitárias!
Tigre de que as brisas da terra o sono embalam,
A que o vento do largo eriça o pelo!
Ouço-te às vezes revoltado e brusco,
Escondido, fantástico, atirando
Pela sombra das noites sem estrelas
A blasfêmia colérica das ondas…
Também eu ergo às vezes
Imprecações, clamores e blasfêmias
Contra essa mão desconhecida e vaga
Que traçou meu destino… Crime absurdo
O crime de nascer! Foi o meu crime.

E eu expio-o vivendo, devorado
Por esta angústia do meu sonho inútil.
Maldita a vida que promete e falta,
Que mostra o céu prendendo-nos à terra,
E, dando as asas, não permite o voo!
Ah! cavassem-te embora
O túmulo em que vives – entre as mesmas
Rochas nuas que os flancos te espedaçam,
Entre as nuas areias que te cingem…
Mas fosses morto, morto para o sonho,
Morto para o desejo de ar e espaço,
E não pairasse, como um bem ausente,
Todo o infinito em cima de teu túmulo!

Fosse tu como um lago,
Como um lago perdido entre as montanhas:
Por só paisagem – áridas escarpas,
Uma nesga de céu como horizonte…
E nada mais! Nem visses nem sentisses
Aberto sobre ti de lado a lado
Todo o universo deslumbrante – perto
Do teu desejo e além do teu alcance!
Nem visses nem sentisses
A tua solidão, sentindo e vendo
A larga terra engalanada em pompas
Que te provocam para repelir-te;
Nem buscando a ventura que arfa em roda,
A onda elevasses para a ver tombando,
– Beijo que se desfaz sem ter vivido,
Triste flor que já brota desfolhada…

Mar, belo mar selvagem!
O olhar que te olha só te vê rolando
A esmeralda das ondas, debruada
Da leve fímbria de irisada espuma…
Eu adivinho mais: eu sinto… ou sonho
Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo
Pelos fundos abismos do teu peito.
Ah, se o olhar descobrisse
Quanto esse lençol de águas e de espumas
Cobre, oculta, amortalha!… A alma dos homens
Apiedada entendera os teus rugidos,
Os teus gritos de cólera insubmissa,
Os bramidos de angústia e de revolta
De tanto brilho condenado à sombra,
De tanta vida condenada à morte!
Ninguém entenda, embora,
Esse vago clamor, marulho ou versos,
Que sai da tua solidão nas praias,
Que sai da minha solidão na vida…
Que importa? Vibre no ar, acode os ecos
E embale-nos a nós que o murmuramos…
Versos, marulho! Amargos confidentes
Do mesmo sonho que sonhamos ambos!

Vicente de Carvalho



"...Euclides da Cunha, que prefaciou "Poemas e Canções", considera as "Palavras ao Mar" um dos "maiores poemas que ainda se escreveram em língua portuguesa". Muitos outros escritores e críticos situaram Vicente de Carvalho um lugar inconfundível na poesia brasileira…"

lundi 8 février 2021

Casimiro de Abreu - "Meus oito anos - Mes huit ans"


Casimiro de Abreu

D'après plusieurs études, Casimiro de Abreu (1839-1860) poète brésilien, fait partie de la seconde génération romantique qui est associée dans plusieurs publications, à l'ultra-romantisme.

Fils du riche commerçant portugais José Joaquim Marques et de Luisa Joaquina das Neves, 
Casimiro José Marques de Abreu,  est né dans l'état de Rio de Janeiro, le 4 janvier 1839.

L'église de São João, où Casimiro de Abreu a reçu le baptême
Igreja de São João, em Barra de São João, onde Casimiro de Abreu foi batizado.

En 1853 son père envoya Casimiro à Lisbonne pour lui faire suivre des études supérieures de commerce, mais c'est la littérature et la poésie qui l'intéressaient le plus. 

Il reste 4 ans dans la capitale portugaise, où il rencontre les intellectuels portugais de l'époque, où il s'imprègne des sentiments et des états d'âme du romantisme, et où il écrit la plupart de ses poèmes. À la fin de ses études, le poète retourne au Brésil, où il mènera sa vie de bohème.
Malheureusement, atteint de tuberculose, Casimiro de Abreu vient à mourir très jeune en 1860.


Casimiro de Abreu est l'auteur du poème "Meus Oito Anos" (mes huit ans), une oeuvre très populaire de la littérature brésilienne.

Pour décrire des souvenirs du lieu de son enfance et la nostalgie des sentiments de liberté et de bonheur d'un temps idyllique, le poète se penche sur le "Saudosismo" (un mot très répandu au Portugal, signifiant le mal du pays, la nostalgie, ou le désir de retourner dans le passé, mais aussi le mouvement littéraire).

 Je traduis la première partie du poème:                          

 Meus Oito Anos                                Mes huit ans

Oh! Que saudades que tenho                    Oh! Comme vous me manquez
Da aurora da minha vida,                         Toi l'aube de ma vie,
Da minha infância querida                       Toi mon enfance chérie 
Que os anos não trazem mais!                  Que les années ne verront plus!  
Que amor, que sonhos, que flores,            Combien d'amours, de rêves, de fleurs,
Naquelas tardes fagueiras                        Dans ces après-midis enjôleurs
À sombra das bananeiras,                        À l'ombre des bananiers,
Debaixo dos laranjais!                             En dessous des orangeraies!

Como são belos os dias                            Comme ils sont beaux les jours
Do despontar da existência!                    De l'éveil de l'existence!
- Respira a alma inocência                     - L'âme exhale l'innocense 
Como perfumes a flor;                            Comme la fleur les parfums;
O mar é - lago sereno,                            La mer est - un lac serein,
O céu - um manto azulado,                     Le ciel - un manteau azuré,
O mundo - um sonho dourado,               Le monde - un rêve doré,
A vida - um hino d'amor!                        La vie - un hymne d'amour!


Ci-dessous, le beau poème en entier

   
MEUS OITO ANOS

Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã.
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! Que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Casimiro de Abreu


Casimiro José Marques de Abreu poeta da segunda geração romântica brasileira, nasceu na Barra de São João, Estado do Rio de Janeiro, no dia 4 de janeiro de 1839. Era filho do rico comerciante português, José Joaquim Marques de Abreu e da brasileira Luísa Joaquina das Neves.

Em 1853 foi para Lisboa a fim de completar os estudos na área comercial. Foi nesse período de 4 anos na capital portuguesa que Casimiro de Abreu iniciou a sua carreira literária em contacto com os poetas românticos portugueses e adeptos do movimento do “Saudosismo”
Em Lisboa escreveu a maior parte de seus poemas. No dia 18 de janeiro de 1856, sua peça Camões e o Jau, que foi encenada no Teatro D. Fernando, em Lisboa foi recebida com aplausos pela imprensa portuguesa.

Em 1857, Casimiro de Abreu voltou ao Rio de Janeiro, e no Brasil terá começado a levar a vida de boémia que ele apreciava.
Infelizmente em 1860, tendo contraído a tuberculose, faleceu em plena juventude aos 21 anos.