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lundi 15 février 2021

Vicente de Carvalho - Palavras ao mar / Paroles a la mer



"O poeta do mar", 

Vicente de Carvalho, poète brésilien, a été appelé le poète de la mer.
Le poète est né dans une ville côtière, et son oeuvre exprime de forts sentiments liés à l'activité et à l'enchantement de la mer.

Vicente Augusto de Carvalho (1866 - 1924) foi um advogado, jornalista, político, abolicionista, fazendeiro, deputado, magistrado, poeta e contista brasileiro. Nasceu numa tradicional família santista. Pelo lado paterno vinha uma linhagem militar, com seu avô capitão de milícias e seu pai o Major Higino José Botelho de Carvalho.
Considerado o maior poeta lírico do Brasil, foi também redator do Diário de Santos e fundador do Diário da Manhã. Foi candidato a deputado provincial no Congresso Republicano no ano de 1887, deputado no Con­gresso Constituinte do Estado, defensor do abolicionismo e da república.

Palavras ao Mar - Vicente de Carvalho 
Publié par ArtefatoculturalTV . 20 nov. 2008


J'ai beaucoup aimé ce long poème qu'il a appelé "Paroles à la mer" et dont je traduis (en amateur) les premiers vers

PALAVRAS AO MAR


Mar, belo mar selvagem                                        Mer, belle mer sauvage
Das nossas praias solitárias! Tigre                        De nos plages solitaires! Le tigre
A que as brisas da terra o sono embalam,            Dont les brises de la terre bercent le sommeil,
A que o vento do largo eriça o pelo!                      Dont le vent du large soulève la fourrure!
Junto da espuma com que as praias bordas,        Près de l'écume dont tu bordes les plages,
Pelo marulho acalentada, à sombra                      Par la houle attiédie, à l'ombre  
Das palmeiras que arfando se debruçam              Des palmiers qui se penchent essouflés
Na beirada das ondas – a minha alma                 Au bord des vagues -  mon âme
Abriu-se para a vida como se abre                        S'est ouverte à la vie comme s'ouvre
A flor da murta para o sol do estio.                        La fleur de myrte au soleil de l'été.



Quando eu nasci, raiava                                         Quand je suis né,  le mois clair
O claro mês das garças forasteiras:                       Des hérons apatrides  débutait:
Abril, sorrindo em flor pelos outeiros,                     Avril, souriait en fleur sur les collines,         
Nadando em luz na oscilação das ondas,             Nageant lumineux dans l'ocillation des vagues,
Desenrolava a primavera de ouro;                         Le printemps d'or il dépliait;                          
E as leves garças, como folhas soltas                   Et les hérons légers, comme des feuilles éparses
Num leve sopro de aura dispersadas,                    Dans un léger souffle de brise dispersées,      
Vinham do azul do céu turbilhonando                    Venaient de l'azur du ciel en tourbillonnant
Pousar o voo à tona das espumas…                      Poser leur envol au-dessus des écumes...

É o tempo em que adormeces
Ao sol que abrasa: a cólera espumante,
Que estoura e brame sacudindo os ares,
Não os saco de mais, nem brame e estoura;
Apenas se ouve, tímido e plangente,
O teu murmúrio; e pelo alvor das praias,
Langue, numa carícia de amoroso,
As largas ondas marulhando estendes…

Ah! vem daí por certo
A voz que escuto em mim, trêmula e triste,
Este marulho que me canta na alma,
E que a alma jorra desmaiado em versos;
De ti, de tu unicamente, aquela
Canção de amor sentida e murmurante
Que eu vim cantando, sem saber se a ouvia,
Pela manhã de sol dos meus vinte anos.

O velho condenado, ao cárcere
das rochas que te cingem!
Em vão levantas para o céu distante
Os borrifos das ondas desgrenhadas.
Debalde! O céu, cheio de sol se é dia,
Palpitante de estrelas quando é noite,
Paira, longínquo e indiferente, acima
Da tua solidão, dos teus clamores…

Condenado e insubmisso
Como tu mesmo, eu sou como tu mesmo
Uma alma sobre a qual o céu resplende
– Longínquo céu – de um esplendor distante.
Debalde, o mar que em ondas te arrepelas,
Meu tumultuoso coração revolto
Levanta para o céu como borrifos,
Toda a poeira de ouro dos meus sonhos.

Sei que a ventura existe,
Sonho-a; sonhando a vejo, luminosa.
Como dentro da noite amortalhado
Vês longe o claro bando das estrelas;
Em vão tento alcançá-la, e as curtas asas
Da alma entreabrindo, subo por instantes…
O mar! A minha vida é como as praias,
E o sonho morre como as ondas voltam!

Mar, belo mar selvagem
Das nossas praias solitárias!
Tigre de que as brisas da terra o sono embalam,
A que o vento do largo eriça o pelo!
Ouço-te às vezes revoltado e brusco,
Escondido, fantástico, atirando
Pela sombra das noites sem estrelas
A blasfêmia colérica das ondas…
Também eu ergo às vezes
Imprecações, clamores e blasfêmias
Contra essa mão desconhecida e vaga
Que traçou meu destino… Crime absurdo
O crime de nascer! Foi o meu crime.

E eu expio-o vivendo, devorado
Por esta angústia do meu sonho inútil.
Maldita a vida que promete e falta,
Que mostra o céu prendendo-nos à terra,
E, dando as asas, não permite o voo!
Ah! cavassem-te embora
O túmulo em que vives – entre as mesmas
Rochas nuas que os flancos te espedaçam,
Entre as nuas areias que te cingem…
Mas fosses morto, morto para o sonho,
Morto para o desejo de ar e espaço,
E não pairasse, como um bem ausente,
Todo o infinito em cima de teu túmulo!

Fosse tu como um lago,
Como um lago perdido entre as montanhas:
Por só paisagem – áridas escarpas,
Uma nesga de céu como horizonte…
E nada mais! Nem visses nem sentisses
Aberto sobre ti de lado a lado
Todo o universo deslumbrante – perto
Do teu desejo e além do teu alcance!
Nem visses nem sentisses
A tua solidão, sentindo e vendo
A larga terra engalanada em pompas
Que te provocam para repelir-te;
Nem buscando a ventura que arfa em roda,
A onda elevasses para a ver tombando,
– Beijo que se desfaz sem ter vivido,
Triste flor que já brota desfolhada…

Mar, belo mar selvagem!
O olhar que te olha só te vê rolando
A esmeralda das ondas, debruada
Da leve fímbria de irisada espuma…
Eu adivinho mais: eu sinto… ou sonho
Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo
Pelos fundos abismos do teu peito.
Ah, se o olhar descobrisse
Quanto esse lençol de águas e de espumas
Cobre, oculta, amortalha!… A alma dos homens
Apiedada entendera os teus rugidos,
Os teus gritos de cólera insubmissa,
Os bramidos de angústia e de revolta
De tanto brilho condenado à sombra,
De tanta vida condenada à morte!
Ninguém entenda, embora,
Esse vago clamor, marulho ou versos,
Que sai da tua solidão nas praias,
Que sai da minha solidão na vida…
Que importa? Vibre no ar, acode os ecos
E embale-nos a nós que o murmuramos…
Versos, marulho! Amargos confidentes
Do mesmo sonho que sonhamos ambos!

Vicente de Carvalho



"...Euclides da Cunha, que prefaciou "Poemas e Canções", considera as "Palavras ao Mar" um dos "maiores poemas que ainda se escreveram em língua portuguesa". Muitos outros escritores e críticos situaram Vicente de Carvalho um lugar inconfundível na poesia brasileira…"

13 commentaires:

  1. Mais uma publicação 5 estrelas :))
    -
    Vagueiam sonhos da minha ilusão
    -
    Beijo e uma excelente semana!

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  2. Que belo achado Angela e linda generosidade trazer para partilhar.
    Um apresentação bonita da sensibilidade.
    Carinhoso abraço e feliz semana
    Beijo e paz no coralçao

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    1. obrigada Toninho !
      penso que a partilha enriquece a poesia, e a poesia enriquece a nossa alma :)

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  3. Mais uma excelente partilha de um poeta que não conhecia. Gostei muito do que li. Grata por isso.
    Abraço e saúde

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    1. é um poema muito poderoso sobre o mar Elvira
      fico muito feliz por descobrir tantos talentos (neste caso, de filhos e netos) que os portugueses deixaram pelos continentes por onde passaram e viveram!
      Pena que não sejam mais conhecidos e estudados, e gosto imenso de descobri-los graças à internet :)

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  4. San Tai Kin Hong
    (Votos típicos de Ano Novo Lunar e que significam boa saúde durante o ano).

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    1. Olá Pedro!
      esperemos que este ano nos traga a esperança de maior normalidades !

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  5. Boa noite de domingo, querida amiga Ângela!
    "Eu adivinho mais: eu sinto… ou sonho
    Um coração chagado de desejos
    Latejando, batendo, restrugindo
    Pelos fundos abismos do teu peito."
    Admiro tanto a capacidade que os poetas têm de captar tão perfeitamente os sentimentos que permeiam os 💙💙.
    Mais uma postagem muito bem organizada e bonita escolha.
    Esteja bem, amiga, proteja-se!
    Beijinhos
    👼🍀🕊️🙏😘💐

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  6. obrigada pela opinião Rosélia,
    achei o poema muito poderoso :)
    tantos talentos por descobrir, admirar, partilhar,
    faz parte da nossa (minha) felicidade
    e ficamos de coração mais aconchegado porque lemos coisas realmente bem escritas e belas !

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  7. Saímos pelo mundo em busca de nossos sonhos e ideais. Muitas vezes colocamos nos lugares inacessíveis o que está ao alcance das mãos.

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