Accompagnons les flâneries de poètes de langue portugaise, les compositions de rimes, les pensées inquiètes ou riantes, de Fernando Pessoa, Luis de Camões, Florbela Espanca, António Nobre, Avelina Noronha, Manuel Fonseca...
(o tradutor à direita da página poderá contribuir para uma melhor compreensão dos textos. Obrigada)
Maria Anna Acciaioli Tamagnini ou Maria Anna de Magalhães Colaço Acciaioli Tamagnini (1900, Torres Vedras – 1933, Lisboa), foi uma poetisa portuguesa.
Photo de Maria Anna Acciaioli avec son mari (image du net)
Maria Ana de Magalhães Colaço Acciaioli, était la filhe du juge Manuel de Barros da Fonseca Acciaioli Coutinho et de Lia de Magalhães Colaço. Elle reçut une éducation de qualité, dans la haute société de Lisbonne, et fréquenta la faculté de lettres de la capitale portugaise.
Dès son mariage, la jeune femme partit avec son mari le gouverneur Artur Tamagnini Barbosa pour Macao (colonie portugaise jusqu'en 1999), le local où il avait été nommé par le gouvernement de l'époque.
Le symbolisme inspira cette poétesse et sa poésie est imprégnée de la culture orientale qu'elle a côtoyé durant une partie de sa vie.
Sa mort à 33 ans, causa un énorme chagrin à son époux.
Sobre a vida da poetisa, podemos ler que:
De nome verdadeiro Maria Ana de Magalhães Colaço Acciaioli, era filha do juiz Manuel de Barros da Fonseca Acciaioli Coutinho e de Lia de Magalhães Colaço.
Compõs poesia de temática extremo-oriental, inspirada na vivência direta de um espaço asiático – no seu caso, Macau.
"...A poetisa, educada no seio da alta sociedade lisboeta, frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa, onde conheceu Artur Tamagnini de Sousa Barbosa (1881-1940), então seu professor.
Contraíram matrimónio (1916) e, com a nomeação de A. Tamagnini para governador de Macau, comissão que cumpriu por três vezes (1918-1919, 1926-1930 e 1937-1940), Maria Anna Tamagnini mudou-se para a Cidade do Santo Nome de Deus (Macau).
Entre Lisboa e Macau, terá vivido cerca de sete anos em Macau, em plena harmonia com as comunidades chinesa e europeia. Terá sido professora de francês e de história da literatura francesa e aprendeu cantonês, o que lhe permitiu entreter e conviver com os chineses frequentadores do Palácio do Governo em Macau.
Do casamento com o governador de Macau nasceram cinco filhos, tendo o último nascimento causado a morte prematura da poetisa, pouco antes de completar 33 anos de idade..."
Excerto do poema flor de Lótus.
Lótus! Flores da noite, flores sagradas De folhas verdes, longas, espalmadas. Flores brancas e rosadas, flores de lago, Que a lua beija e despe num afago.
À tona de água, pelas noites cálidas, Lembrais-me virgens sonhadoras, pálidas. Noivas à espera do seu bem-amado… Envoltas no véu branco de noivado.
Cobrindo os lagos quietos, azulados, Ó flores de lótus de botões rosados, Lembrais-me... seios castos, virginais, Pombas brancas fugidas dos pombais.
Corpos leves de ninfas a flutuar Sobre a alfombra das folhas verde-mar; Princesinhas do Oriente transformadas Em pétalas de lótus, desmaiadas.
Flores de nácar de folhas cor de jade, Inimigas do sol, da claridade, Companheiras das águas que ao luar Vos quedais todas brancas a cismar...
(....)
Os cisnes exultavam de vaidade, Mas choraria a lua de saudade, E os poetas não cantavam, nunca mais, A poesia das noites orientais!
Maria Anna Acciaioli TAMAGNINI – Lin-Tchi-Fá, Flor de Lotus, Poesias de Extremo Oriente, 1925
Extrait du poème Fleur de lotus (ma traduction d'amateur)
Lotus! Fleurs de nuit, fleurs sacrées Aux feuilles vertes, longues, émincées. Fleurs blanches et rosées, fleurs du lac, Que la lune embrasse et déshabille tendrement.
À la surface de l'eau, par les chaudes nuits, Vous me rappelez les vierges rêveuses, affadies. Les jeunes filles qui attendent leur bien-aimé ... Enveloppées dans leur voile blanc de mariées.
En recouvrant les lacs calmes et bleutés, Oh fleurs de lotus aux boutons rosés, Vous me rappelez ... les seins chastes, immaculés, Colombes blanches échappées de leur volière.
Corps légers de nymphes qui dandinent Sur le tapis des feuilles vert marine; Petites princesses de l'Orient transformées Em pétales de lotus, extasiées.
Fleurs de nacre de feuilles couleur de jade, Adversaires du soleil, de la clarté, Compagnes des eaux qui au clair de lune Vous restez toutes blanches à rêvasser ... (....)
Les cygnes débordaient de vanterie, Mais la lune pleurerait de nostalgie, Et les poètes, plus jamais, ne chanteraient, Des nuits orientales la poésie!
Fleur de lotus
Publié par Royal Lotus • Sortie le 8 déc. 2020
La fleur de lotus est une fleur sacrée très rare vénérée par les moines de l’antiquité dans la religion bouddhiste et hindou.
Vasco Cabral, (1926-2005-) est un poète et homme politique africain né à Guinée-Bissau.
La Guinée-Bissau était une province portugaise d’outre-mer qui en 1974 devient indépendante.
Vasco Cabral a étudié au Portugal à "l'Universidade Técnica de Lisboa" où il a obtenu son diplome et, en liaison avec le parti communiste, a participé à la lutte clandestine contre le gouvernement portugais de l’époque. Pendant les années de sa vie au Portugal, Vasco Cabral a même été emprisonné en 1953 pour son opposition au regime salazariste.
Vasco Cabral (image du net)
À Guinée-Bissau Vasco Cabral continua sa lutte pour l’indépendence du territoire et fut l'un des fondateurs du "Parti africain pour l'indépendance de la Guinée et du Cap-Vert (PAIGC)".
Poète engagé, Vasco Cabral a été ministre de l'économie et des finances, ministre de la justice et vice-président de Guinée-Bissau, suite à l’indépendance de 1974.
Onde está a poesia?
A poesia está nas asas da aurora quando o sol desperta.
A poesia está na flor quando a pétala se abre às lágrimas do orvalho.
A poesia está no mar quando a onda avança e branda e suavemente beija a areia da praia.
A poesia está no rosto da mãe quando na dor do parto a criança nasce.
A poesia está nos teus lábios quando confiante Sorris à vida.
A poesia está na prisão quando o condenado à morte dá uma vida à liberdade.
A poesia está na vitória quando a luta avança e triunfa e chega a Primavera.
A poesia está no meu povo quando transforma o sangue derramado em balas e flores em balas para o inimigo e em flores para as crianças.
A poesia está na vida porque a vida é luta!
Vasco Cabral
Transcrevo alguns detalhes da vida do poeta:
"...Vasco Cabral nasceu em 1926 em Farim na então Guiné Portuguesa. Estudou em Portugal e cedo se interessou pela política participando na campanha de Norton de Matos, candidato da Oposição anti-salazarista à Presidência da República Portuguesa. Formado em Ciências Económicas e Financeiras, é preso em 1953, pelas suas ações políticas
"...1962 foi um ano pleno de acontecimentos relevantes no quadro da resistência ao regime salazarista pois pela primeira vez nas ruas do Porto e no 1º de Maio em Lisboa são gritadas palavras de ordem contra a guerra colonial e, num tribunal de Luanda, são condenados os escritores António Jacinto, António Cardoso e Luandino Vieira a 14 anos de prisão; nesse mesmo ano, ameaçados de novo pela polícia política, o angolano Agostinho Neto acompanhado pela família e Vasco Cabral, numa fuga de barco organizada pelo Partido Comunista Português, alcançam Rabat, em Marrocos.
Vasco Cabral tornou-se um dos principais dirigentes do Partido Africano pela Independência de Guiné Bissau e Cabo Verde (PAIGC).
Com a independência da Guiné-Bissau em 1974, desempenhou funções no Governo (ministro da Economia e Finanças, coordenador de Economia e Planeamento, ministro de Estado da Justiça e membro do Conselho de Estado). Foi vice-Presidente da República e fundador da União Nacional de Escritores da Guiné-Bissau.
Onde está a poesia? Où est la poesie?
A poesia está nas asas da
aurora La poesie est dans les ailes de l'aube
quando o sol desperta.lorsque le soleil se réveille.
A poesia está na florLa poésie est dans la fleur
quando a pétala se abre lorsque les pétales s'ouvrent
às lágrimas do orvalho.aux larmes de la rosée.
A poesia está no marLa poésie est dans la mer
quando a onda avança lorsque la vague avance
e branda e suavementeet que, douce et calme
beija a areia da praia.elle embrasse le sable de la plage.
A poesia está no rosto da mãeLa poésie est dans le visage de la mère
quando na dor do partolorsque dans la douleur
a criança nasce.à l'enfant elle donne naissance.
A poesia está nos teus lábiosLa poésie est sur tes lèvres
quando confiantelorsque confiante
Sorris à vida. tu souris à la vie.
A poesia está na prisãoLa poésie est dans la prison
quando o condenado à mortelorsque le condamné à mort
dá uma vida à liberdade. donne une vie à la liberté
A poesia está na vitóriaLa poésie est dans la victoire
quando a luta avança e triunfalorsque la lute avance et triomphe
e chega a Primavera.et qu'arrive le printemps.
A poesia está no meu povoLa poésie est dans mon peuple
quando transforma o sangue derramado lorsqu'il transforme le sang versé
em balas e flores en balles et en fleurs
em balas para o inimigo en balles pour l'ennemi
e em flores para as crianças. et en fleurs pour les enfants.
A poesia está na vidaLa poésie est dans la vie
porque a vida é luta!car la vie est la lutte!
Vasco Cabral
On trouve à Lisbonne, dans le Parc des Poètes de Oeiras, une statue du poète Vasco Cabral
Pour vous présentar ce mouvement littéraire, je reproduis la définition trouvée dans Wikipédia:
"Le Parnasse, ou mouvement parnassien, est un mouvement poétique apparu en France dans la seconde moitié du xixe siècle. Le mouvement tire son nom du recueil poétique Le Parnasse contemporain publié entre 1866 et 1876 par l’éditeur Alphonse Lemerre. Le terme parnasse, dans son usage commun, désigne la poésie en général et les poètes.
Le mouvement parnassien apparaît en réaction au lyrisme subjectif et sentimental du romantisme."
Au Portugal le mouvement poétique prend le nom de "Parnasianismo", et son représentant dans ce post, est le poète Gonçalves Crespo.
António Cândido Gonçalves Crespo (1846 — 1883)
foi um poeta e jurista português (Wikipedia)
"...António Cândido Gonçalves Crespo (1846-1883), filho de negociante português e de mãe negra, nasceu nos arredores do Rio de Janeiro, na roça de seu pai.
Inicia a instrução num colégio da capital carioca e aos 14 anos viaja para Portugal onde passará a residir, primeiro no Porto, depois em Braga, onde se revela como poeta, escreve para várias publicações periódicas e participa nas tertúlias literárias do Café Viana. Em 1872, ingressa na Universidade de Coimbra, formando-se em Direito em 1877. Veio a ser eleito deputado pelo Círculo da Índia (Goa e Nova Goa) nas eleições de 1879 e de 1881...."
A SESTA
Na rede, que um negro moroso balança,
qual berço de espumas,
formosa crioula repousa e dormita,
enquanto a mucamba nos ares agita
um leque de plumas.
Na rede perpassam as trémulas sombras
dos altos bambus;
e dorme a crioula, de manso embalada,
pendidos os braços da rede nevada
mimosos e nus.
Na rede, suspensa dos ramos erguidos,
suspira e sorri
a lânguida moça, cercada de flores;
aos guinchos dá saltos na esteira de cores
felpudo sagui.
Na rede, por vezes, agita-se a bela,
talvez murmurando
em sonhos as trovas cadentes, saudosas,
que triste colono por noites formosas
descanta chorando.
A rede nos ares do novo flutua,
e a bela a sonhar!
Ao longe nos bosques escuros, cerrados,
de negros cativos os cantos magoados
soluçam no ar.
Na rede olorosa… Silêncio! Deixai-a
dormir em descanso!...
Escravo, balança-lhe a rede serena;
mestiça, teu leque de plumas acena
de manso, de manso…
O vento que passe tranquilo, de leve,
nas folhas do ingá;
as aves que abafem seu canto sentido;
as rodas do «engenho» não façam ruído,
que dorme a sinhá!
Gonçalves Crespo
Comme le préconisaient les Parnassiens, "il n’y est absolument pas question de l’auteur et de ses sentiments personnels" dans ce poème de Gonçalves Crespo.
Le poète, se rappelant ses origines, et les images qui lui restent dans la mémoire, décrit une scène fréquente et familière des villages brésiliens.
image du net
La sieste
Dans le hamac, qu'un nègre indolent balance,
tel un berceau d'écumes,
une belle créole se repose et sommeille,
pendant que la servante dans l'air agite
un éventail de plumes.
Sur le hamac glissent les ombres tremblantes
des hauts bambous;
et la créole dort, tout doucement bercée,
les bras pendant du filet immaculé
devêtus et doux.
Dans le hamac, accroché aux branches surélevées,
elle soupire et sourit
fille languide, entourée de fleurs;
en criant et sautant sur le tapis de couleurs
un poilu ouistiti.
Dans le hamac, parfois, la belle s'agite,
peut-être qu'en murmurant
en rêve les poésies soudaines, nostalgiques,
qu'un colon triste dans les nuits magiques
chantonne en pleurant.
Le hamac à nouveau dans l'air vacille,
et la belle dort en rêvant!
Au loin dans les bois sombres, serrés,
des nègres captifs les chants blessés
dans l'air en sanglotant.
Dans le hamac parfumé… Silence! Laissez-la
dormir tranquillement!...
Esclave, balance son filet retenu;
métisse, ton éventail de plumes salue
tout doucement, tout doucement…
Que le vent passe tranquille et discret,
dans les feuilles de l'inga;
que les oiseaux noient leur chant assombri;
que les roues du "moulin" ne fassent pas de bruit,
car elle dort la sinhá!
(ci-dessus, ma traduction d'amateur)
inganom de certains arbres du Brésil sinhá nom donné à la maîtresse de maison dans les fermes du Brésil (de senhora)
A definição de parnassianismo no dicionário é uma corrente literária de origem francesa que na segunda metade do século XIX se opunha ao gosto romântico, defendendo um poema baseado em virtuosismo técnico, em linguagem refinada e em uma visão distanciada do mundo.
Em Portugal, os principais autores parnasianos são: João Penha, Gonçalves Crespo, António Feijó e Cesário Verde.
"Esta reação teve como lema «a arte pela arte», ou seja, a arte como um fim em si mesma, colocando-a ao serviço da sociedade."
Fernando Pessoa, l'illustre poète portugais (1888-1935), poète universel de par son oeuvre immense
Le poème qui suit, rappelle l'épisode tragique de la mort du jeune roi portugais Sébastien 1er partit combattre les maures. Disparu lors de la bataille des Trois Rois (Alcácer-Quibir),
ce désastre provoca une grande crise de succession car Sébastien 1er est mort sans laisser d'héritier. Un des candidats au trône fut le puissant roi d'Espagne (petit fils du roi portugais Manuel 1er) qui, prenant le pouvoir à Lisbonne, donna lieu à l'Union Ibérique.
La croyance du peuple portugais basé sur la légende que le roi avait échappé à la mort, fit croître le "sébastianisme" et l'espoir d'un retour du souverain qui devrait revenir "lors d'un matin de brouillard" pour normaliser la situation du pays.
A última nau
Levando a bordo El-Rei
D. Sebastião, E erguendo, como um
nome, alto o pendão Do Império, Foi-se a última nau, ao
sol aziago Erma, e entre choros de
ânsia e de pressago Mistério. Não voltou mais. A que
ilha indescoberta Aportou? Voltará da
sorte incerta Que teve? Deus guarda o corpo e a
forma do futuro, Mas Sua luz projeta-o,
sonho escuro E breve. Ah, quanto mais ao povo
a alma falta, Mais a minha alma
atlântica se exalta E entorna, E em mim, num mar que
não tem tempo ou ’spaço, Vejo entre a cerração
teu vulto baço Que torna. Não sei a hora, mas sei
que há a hora, Demore-a Deus,
chame-lhe a alma embora Mistério. Surges ao sol em mim, e
a névoa finda: A mesma, e trazes o
pendão ainda Do Império.
Fernando Pessoa em "Mensagem"
Ma traduction d'amateur:
Le dernier bateau
Emportant à son bord le Roi Dom Sebastião,
Et en hissant, comme un nom, haut, l’étendard
De l'Empire,
Partit le dernier bateau, sous le soleil amère
Errant, parmi les cris d’angoisse et de prophétique
Mystère.
Il n'est pas revenu. A quelle île inconnue
A-t-il accosté? Reviendra-t-il du sort incertain
Qu'il a connu? Dieu se réserve le corps et la forme du futur,
Mais Sa lumière se projecte, rêve sombre
Et court.
Ah, plus l'âme au peuple faiblit,
Plus mon âme atlantique se raffermit
Et se répand,
Et en moi, dans un océan qui n'a ni de temps ni d'espace,
Je vois entre le brouillard ta silhouette blême
Revenant.
Je ne sais pas l’heure, mais je sais qu'il y a l’heure,
Que Dieu la retarde, l’appelle l’âme partante
MystèreTu surgis au soleil en moi, et la
brume part:
La même, et de l'Empire tu portes encore
L'étendard.
Vicente de Carvalho, poète brésilien, a été appelé le poète de la mer.
Le poète est né dans une ville côtière, et son oeuvre exprime de forts sentiments liés à l'activité et à l'enchantement de la mer.
Vicente Augusto de Carvalho (1866 - 1924) foi um advogado, jornalista, político, abolicionista, fazendeiro, deputado, magistrado, poeta e contista brasileiro. Nasceu numa tradicional família santista. Pelo lado paterno vinha uma linhagem militar, com seu avô capitão de milícias e seu pai o Major Higino José Botelho de Carvalho.
Considerado o maior poeta lírico do Brasil, foi também redator do Diário de Santos e fundador do Diário da Manhã. Foi candidato a deputado provincial no Congresso Republicano no ano de 1887, deputado no Congresso Constituinte do Estado, defensor do abolicionismo e da república.
Palavras ao Mar - Vicente de Carvalho
Publié par ArtefatoculturalTV . 20 nov. 2008
J'ai beaucoup aimé ce long poème qu'il a appelé "Paroles à la mer" et dont je traduis (en amateur) les premiers vers
PALAVRAS AO MAR
Mar, belo mar selvagem Mer, belle mer sauvage Das nossas praias solitárias! Tigre De nos plages solitaires! Le tigre A que as brisas da terra o sono embalam, Dont les brises de la terre bercent le sommeil, A que o vento do largo eriça o pelo! Dont le vent du large soulève la fourrure! Junto da espuma com que as praias bordas, Près de l'écume dont tu bordes les plages, Pelo marulho acalentada, à sombra Par la houle attiédie, à l'ombre Das palmeiras que arfando se debruçam Des palmiers qui se penchent essouflés Na beirada das ondas – a minha alma Au bord des vagues - mon âme Abriu-se para a vida como se abre S'est ouverte à la vie comme s'ouvre A flor da murta para o sol do estio. La fleur de myrte au soleil de l'été.
Quando eu nasci, raiava Quand je suis né, le mois clair O claro mês das garças forasteiras: Des hérons apatrides débutait: Abril, sorrindo em flor pelos outeiros, Avril, souriait en fleur sur les collines, Nadando em luz na oscilação das ondas, Nageant lumineux dans l'ocillation des vagues, Desenrolava a primavera de ouro; Le printemps d'or il dépliait; E as leves garças, como folhas soltas Et les hérons légers, comme des feuilles éparses Num leve sopro de aura dispersadas, Dans un léger souffle de brise dispersées, Vinham do azul do céu turbilhonando Venaient de l'azur du ciel en tourbillonnant Pousar o voo à tona das espumas… Poser leur envol au-dessus des écumes...
É o tempo em que adormeces Ao sol que abrasa: a cólera espumante, Que estoura e brame sacudindo os ares, Não os saco de mais, nem brame e estoura; Apenas se ouve, tímido e plangente, O teu murmúrio; e pelo alvor das praias, Langue, numa carícia de amoroso, As largas ondas marulhando estendes…
Ah! vem daí por certo A voz que escuto em mim, trêmula e triste, Este marulho que me canta na alma, E que a alma jorra desmaiado em versos; De ti, de tu unicamente, aquela Canção de amor sentida e murmurante Que eu vim cantando, sem saber se a ouvia, Pela manhã de sol dos meus vinte anos.
O velho condenado, ao cárcere das rochas que te cingem! Em vão levantas para o céu distante Os borrifos das ondas desgrenhadas. Debalde! O céu, cheio de sol se é dia, Palpitante de estrelas quando é noite, Paira, longínquo e indiferente, acima Da tua solidão, dos teus clamores…
Condenado e insubmisso Como tu mesmo, eu sou como tu mesmo Uma alma sobre a qual o céu resplende – Longínquo céu – de um esplendor distante. Debalde, o mar que em ondas te arrepelas, Meu tumultuoso coração revolto Levanta para o céu como borrifos, Toda a poeira de ouro dos meus sonhos.
Sei que a ventura existe, Sonho-a; sonhando a vejo, luminosa. Como dentro da noite amortalhado Vês longe o claro bando das estrelas; Em vão tento alcançá-la, e as curtas asas Da alma entreabrindo, subo por instantes… O mar! A minha vida é como as praias, E o sonho morre como as ondas voltam!
Mar, belo mar selvagem Das nossas praias solitárias! Tigre de que as brisas da terra o sono embalam, A que o vento do largo eriça o pelo! Ouço-te às vezes revoltado e brusco, Escondido, fantástico, atirando Pela sombra das noites sem estrelas A blasfêmia colérica das ondas… Também eu ergo às vezes Imprecações, clamores e blasfêmias Contra essa mão desconhecida e vaga Que traçou meu destino… Crime absurdo O crime de nascer! Foi o meu crime.
E eu expio-o vivendo, devorado Por esta angústia do meu sonho inútil. Maldita a vida que promete e falta, Que mostra o céu prendendo-nos à terra, E, dando as asas, não permite o voo! Ah! cavassem-te embora O túmulo em que vives – entre as mesmas Rochas nuas que os flancos te espedaçam, Entre as nuas areias que te cingem… Mas fosses morto, morto para o sonho, Morto para o desejo de ar e espaço, E não pairasse, como um bem ausente, Todo o infinito em cima de teu túmulo!
Fosse tu como um lago, Como um lago perdido entre as montanhas: Por só paisagem – áridas escarpas, Uma nesga de céu como horizonte… E nada mais! Nem visses nem sentisses Aberto sobre ti de lado a lado Todo o universo deslumbrante – perto Do teu desejo e além do teu alcance! Nem visses nem sentisses A tua solidão, sentindo e vendo A larga terra engalanada em pompas Que te provocam para repelir-te; Nem buscando a ventura que arfa em roda, A onda elevasses para a ver tombando, – Beijo que se desfaz sem ter vivido, Triste flor que já brota desfolhada…
Mar, belo mar selvagem! O olhar que te olha só te vê rolando A esmeralda das ondas, debruada Da leve fímbria de irisada espuma… Eu adivinho mais: eu sinto… ou sonho Um coração chagado de desejos Latejando, batendo, restrugindo Pelos fundos abismos do teu peito. Ah, se o olhar descobrisse Quanto esse lençol de águas e de espumas Cobre, oculta, amortalha!… A alma dos homens Apiedada entendera os teus rugidos, Os teus gritos de cólera insubmissa, Os bramidos de angústia e de revolta De tanto brilho condenado à sombra, De tanta vida condenada à morte! Ninguém entenda, embora, Esse vago clamor, marulho ou versos, Que sai da tua solidão nas praias, Que sai da minha solidão na vida… Que importa? Vibre no ar, acode os ecos E embale-nos a nós que o murmuramos… Versos, marulho! Amargos confidentes Do mesmo sonho que sonhamos ambos!
Vicente de Carvalho
"...Euclides da Cunha, que prefaciou "Poemas e Canções", considera as "Palavras ao Mar" um dos "maiores poemas que ainda se escreveram em língua portuguesa". Muitos outros escritores e críticos situaram Vicente de Carvalho um lugar inconfundível na poesia brasileira…"
D'après plusieurs études, Casimiro de Abreu (1839-1860) poète brésilien, fait partie de la seconde génération romantique qui est associée dans plusieurs publications, à l'ultra-romantisme.
Fils du riche commerçant portugais José Joaquim Marques et de Luisa Joaquina das Neves,
Casimiro José Marques de Abreu, est né dans l'état de Rio de Janeiro, le 4 janvier 1839.
L'église de São João, où Casimiro de Abreu a reçu le baptême
Igreja de São João, em Barra de São João, onde Casimiro de Abreu foi batizado.
En 1853 son père envoya Casimiro à Lisbonne pour lui faire suivre des études supérieures de commerce, mais c'est la littérature et la poésie qui l'intéressaient le plus.
Il reste 4 ans dans la capitale portugaise, où il rencontre les intellectuels portugais de l'époque, où il s'imprègne des sentiments et des états d'âme du romantisme, et où il écrit la plupart de ses poèmes. À la fin de ses études, le poète retourne au Brésil, où il mènera sa vie de bohème.
Malheureusement, atteint de tuberculose, Casimiro de Abreu vient à mourir très jeune en 1860.
Casimiro de Abreu est l'auteur du poème "Meus Oito Anos" (mes huit ans), une oeuvre très populaire de la littérature brésilienne.
Pour décrire des souvenirs du lieu de son enfance et la nostalgie des sentiments de liberté et de bonheur d'un temps idyllique, le poète se penche sur le "Saudosismo" (un mot très répandu au Portugal, signifiant le mal du pays, la nostalgie, ou le désir de retourner dans le passé, mais aussi le mouvement littéraire).
Je traduis la première partie du poème:
Meus Oito AnosMes huit ans
Oh! Que saudades que tenho Oh! Comme vous me manquez Da aurora da minha vida, Toi l'aube de ma vie, Da minha infância querida Toi mon enfance chérie Que os anos não trazem mais! Que les années ne verront plus! Que amor, que sonhos, que flores, Combien d'amours, de rêves, de fleurs, Naquelas tardes fagueiras Dans ces après-midis enjôleurs À sombra das bananeiras, À l'ombre des bananiers, Debaixo dos laranjais! En dessous des orangeraies!
Como são belos os dias Comme ils sont beaux les jours Do despontar da existência! De l'éveil de l'existence! - Respira a alma inocência - L'âme exhale l'innocense Como perfumes a flor; Comme la fleur les parfums; O mar é - lago sereno, La mer est - un lac serein, O céu - um manto azulado, Le ciel - un manteau azuré, O mundo - um sonho dourado, Le monde - un rêve doré, A vida - um hino d'amor! La vie - un hymne d'amour!
Ci-dessous, le beau poème en entier
MEUS OITO ANOS
Oh! Que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias Do despontar da existência! - Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é - lago sereno, O céu - um manto azulado, O mundo - um sonho dourado, A vida - um hino d'amor!
Que auroras, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d’estrelas, A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã. Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, De camisa aberto ao peito, - Pés descalços, braços nus - Correndo pelas campinas À roda das cachoeiras, Atrás das asas ligeiras Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava às Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo, Adormecia sorrindo E despertava a cantar!
Oh! Que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! - Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!
Casimiro de Abreu
Casimiro José Marques de Abreu poeta da segunda geração romântica brasileira, nasceu na Barra de São João, Estado do Rio de Janeiro, no dia 4 de janeiro de 1839. Era filho do rico comerciante português, José Joaquim Marques de Abreu e da brasileira Luísa Joaquina das Neves.
Em 1853 foi para Lisboa a fim de completar os estudos na área comercial. Foi nesse período de 4 anos na capital portuguesa que Casimiro de Abreu iniciou a sua carreira literária em contacto com os poetas românticos portugueses e adeptos do movimento do “Saudosismo”
Em Lisboa escreveu a maior parte de seus poemas. No dia 18 de janeiro de 1856, sua peça Camões e o Jau, que foi encenada no Teatro D. Fernando, em Lisboa foi recebida com aplausos pela imprensa portuguesa.
Em 1857, Casimiro de Abreu voltou ao Rio de Janeiro, e no Brasil terá começado a levar a vida de boémia que ele apreciava.
Infelizmente em 1860, tendo contraído a tuberculose, faleceu em plena juventude aos 21 anos.