Pausa deste blog

lundi 18 mai 2020

Tempo de confinamento/ Par temps de confinement



Tempo de confinamento
Confesso a quem por aqui passa,
que tenho sede de um abraço,
que me confino e desatino,
na grandeza de um mero espaço.

Que imagino roseirais em flor
e desenhos de auroras sobre as dunas,
barquinhos de brincar nas correntes,
meandros de sapais e de espumas.

Confesso a quem por aqui passa,
que me procuro, murmuro e me aventuro,
fico sem saber o que é tempo.
O alento encontro-o por aqui,
e por aqui, na visita diária do vento.

Dói-me a ausência dos outros,
o clamor que aquece a alma,
os sossegos desassossegados.
Calo a ternura sem fim,
mais o frio do distanciamento, 
sonho com manhãs leves e belas.
Correm os dias… a passo lento.

Angela


Mais en période de déconfinement, un peu de musique et "faisons ce qui n'a pas encore été fait"!
Je vous invite à écouter Pedro Abrunhosa, toujours avec des créations très poétiques:

Pedro 
Pedro Abrunhosa - 'Fazer o Que Ainda Não Foi Feito'
Publié par Pedro Abrunhosa •13/07/2010 
'Pedro Abrunhosa & Comité Caviar' Álbum 'LONGE'

Fazer o Que Ainda Não Foi Feito

Sei que me vês
Quando os teus olhos me ignoram
Quando por dentro eu sei que choram
Sabes de mim
Eu sou aquele que se esconde
Sabe de ti, sem saber onde
Vamos fazer o que ainda não foi feito

Trago-te em mim
Mesmo que chova no verão
Queres dizer sim, mas dizes não
Vamos fazer o que ainda não foi feito

E eu sou mais do que te invento
Tu és um mundo com mundos por dentro
E temos tanto pra contar
Vem nesta noite
Fomos tão longe a vida toda
Somos um beijo que demora
Porque amanhã é sempre tarde demais

E eu sei que dói
Sei como foi andares tão só por essa rua
As vozes que te chamam e tu na tua
Esse teu corpo é o teu porto, é o teu jeito
Vamos fazer o que ainda não foi feito

Sabes quem sou, para onde vou
A vida é curva, não uma linha
As portas que se fecham e eu na minha
A tua sombra é o lugar onde me deito
Vamos fazer o que ainda não foi feito

E eu sou mais do que te invento
Tu és um mundo com mundos por dentro
E temos tanto pra contar
Vem nesta noite
Fomos tão longe a vida toda
Somos um beijo que demora
Porque amanhã é sempre tarde demais

Tens uma estrada
Tenho uma mão cheia de nada
Somos um todo imperfeito
Tu és inteira e eu desfeito
Vamos fazer o que ainda não foi feito

E eu sou mais do que te invento
Tu és um mundo com mundos por dentro
E temos tanto pra contar
Vem nesta noite
Fomos tão longe a vida toda
Somos um beijo que demora
Porque amanhã é sempre tarde demais

Vem nesta noite
Fomos tão longe a vida toda
Somos um beijo que demora
Porque amanhã é sempre tarde demais

Porque amanhã é sempre tarde demais
Porque amanhã é sempre tarde demais
Porque amanhã é sempre tarde demais


Et avec ma traduction d'amateur:
Faisons ce qui n'a pas encore été fait


Je sais que tu me vois
Quand tes yeux m'ignorent

Quand à l'intérieur je sais qu'ils pleurent
Tu me connais
Je suis celui qui se cache
Qui te connait, sans savoir d'où
Faisons ce qui n'a pas encore été fait

Je t'amène en moi
Même s'il pleut en été
Tu veux dire oui, mais tu dis non
Faisons ce qui n'a pas encore été fait

Et je suis plus que je ne t'invente
Tu es un monde avec des mondes dedans
Et nous avons tellement de choses à dire
Viens ce soir
Nous sommes allés si loin toute la vie
Nous sommes un baiser qui tarde
Parce que demain será toujours trop tard

Et je sais que ça fait mal
Je sais comment c'était toi si seule dans cette rue
Les voix qui t'appellent et toi sans faire de cas
C'est ton corps qui est ton port, c'est ta façon
Faisons ce qui n'a pas encore été fait


Tu sais qui je suis, où je vais
La vie est courbe, ce n'est pas une ligne
Les portes qui se ferment et moi dans mon idée
Ton ombre est l'endroit où je me couche
Faisons ce qui n'a pas encore été fait


Et je suis plus que je ne t'invente
Tu es un monde avec des mondes dedans

Et nous avons tellement de choses à dire
Viens ce soir
Nous sommes allés si loin toute la vie
Nous sommes un baiser qui tarde
Parce que demain será toujours trop tard

Tu as une route
J'ai une main pleine de rien

Nous sommes un tout imparfait
Tu es entière et moi je suis défait
Faisons ce qui n'a pas encore été fait


Et je suis plus que je ne t'invente

Tu es un monde avec des mondes dedans
Et nous avons tellement de choses à dire

Viens ce soir
Nous sommes allés si loin toute la vie
Nous sommes un baiser qui tarde
Parce que demain será toujours trop tard

Viens ce soir
Nous sommes allés si loin toute la vie
Nous sommes un baiser qui tarde 
Parce que demain será toujours trop tard

Parce que demain será toujours trop tard
Parce que demain será toujours trop tard
Parce que demain será toujours trop tard



mercredi 13 mai 2020

Antonio Gedeao - "Maezinha / Maman"



Le mois de mai, est le mois de la Fête des Mères, célébrée le premier dimanche du mois au Portugal, le deuxième dimanche au Brésil.
Je vous invite à écouter et à lire un poème du poète portugais António Gedeão, 
António Gedeão étant le pseudonyme de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, poète, écrivain, professeur, historien, né à Lisbonne
(1906-1997).
MÃEZINHA, António Gedeão - Poème récité par Vitor D' Andrade RTP 
"Um Poema por Semana" é uma ideia de Paula Moura Pinheiro. São 15 poemas em 75 dias, ditos por 75 pessoas. www.rtp.pt/umpoemaporsemana; www.facebook.com/rtpdois;
Poema "Mãezinha" de António Gedeão - Publié par RTP - 24/03/2011

António Gedeão (Rómulo Vasco da Gama de Carvalho) nasceu em 24 de Novembro de 1906, na Rua do Arco do Limoeiro em Lisboa, e foi professor, pedagogo e autor de manuais escolares, historiador da ciência e da educação, divulgador científico e poeta. Faleceu em 1997.


Mãezinha / Maman


A terra de meu pai era pequena
e os transportes difíceis.
Não havia comboios, nem automóveis, nem aviões, nem mísseis.
Corria branda a noite e a vida era serena.

Segundo informação, concreta e exata,
dos boletins oficiais,
viviam lá na terra, a essa data
3023 mulheres, das quais
45 por cento eram de tenra idade,
chamando tenra idade
à que vai do berço até à puberdade.

28 por cento das restantes
eram senhoras, daquelas senhoras que só havia dantes.
Umas, viúvas, que nunca mais (oh! nunca mais!) tinham sequer sorrido
desde o dia da morte do extremoso marido;
outras, senhoras casadas, mães de filhos...
(De resto, as senhoras casadas,
pelas suas próprias condições,
não têm que ser consideradas
nestas considerações.)

Das outras, 10 por cento,
eram meninas casadoiras, seriíssimas, discretas,
mas que por temperamento,
ou por outras razões mais ou menos secretas,
não se inclinavam para o casamento.

Além destas meninas
havia, salvo erro, 32,
que à meiga luz das horas vespertinas
se punham a bordar por detrás das cortinas
espreitando, de revés, quem passava nas ruas.

Dessas havia 9 que moravam
em prédios baixos como então havia,
um aqui, outro além, mas que todos ficavam
no troço habitual que o meu pai percorria,
tranquilamente no maior sossego, às horas em
que entrava e saía do emprego.

Dessas 9 excelentes raparigas
uma fugiu com o criado da lavoura;
5 morreram novas, de bexigas;
outra, que veio a ser grande senhora,
teve as suas fraquezas mas casou-se
e foi condessa por real mercê;
outra suicidou-se
não se sabe porquê.

A que sobeja
chama-se Rosinha.
Foi essa que o meu pai levou à igreja.
Foi a minha mãezinha.

António Gedeão (image du net)
Avec ma traduction d'amateur:

La région de mon père était petite
et les transports difficiles.
Il n'y avait ni trains, ni voitures, ni avions, ni missiles.
La nuit se déroulait calme et la vie était sereine.

Selon les informations, concrètes et exactes,
des bulletins officiels,
dans le pays vivaient, à cette date
3023 femmes, dont
45 pour cent étaient enfants en bas âge,
bas âge se sous-entend
celui qui va du berceau à la puberté.

28 pour cent du reste
étaient des dames, de ces dames qu'il y avait avant.
Quelques unes, des veuves qui n'avaient plus jamais (oh! plus jamais!) même pas souri
depuis le jour de la mort de leur merveilleux mari;
d'autres, des dames mariées, mères d'enfants ...
(En fait, les dames mariées,
de par leur propres conditions,
ne doivent pas être considérées
dans les présentes considérations)

Parmi les autres, 10 pour cent,
étaient des filles en âge de se marier, très sérieuses, discrètes,
mais qui par leur caractère,
ou pour d'autres raisons plus ou moins secrètes,
pour le mariage n'avaient pas de penchant.

Outre ces filles
il y en avait, sauf erreur, 32,
qui à la douce lumière des heures du soir
se mettaient à broder derrière les rideaux
tout en guettant, du coin de l'oeil, qui dans les rues passait.

De ce nombre, 9 vivaient
dans des bâtiments bas comme à l'époque il existait,
un ici, un là-bas, mais que tous étaient situés
dans le parcours habituel que mon père suivait,
tranquillement dans le plus grand calme, aux heures
qu'il allait et rentrait du travail.

De ces 9 admirables jeunes filles
une s'est enfuie avec l'employé de la ferme;
5 de la varicelle sont mortes jeunes;
une autre, qui est devenu une grande dame,
qui a eu ses faiblesses mais qui s'est mariée
et est devenue comtesse par volonté du roi;
une autre s'est suicidée
on ne sait pas pourquoi.

Celle qui reste
s'appelle Rosinha.
C'est celle que mon père emmena à l'église.
C'était ma maman.

Le mois de mai est aussi le mois de la grande fête de Fátima. Malheureusement cette année, le sanctuaire est fermé, et les célébrations se déroulent sans la présence des pélerins. On ne voit pas les belles images, comme celles de 2018:
Procissão das Procissão das Velas - Santuário de Fátima - 
Publié par Portugal cool  •04/05/2018