Pausa deste blog

samedi 31 octobre 2020

Poemes sur l'automne

L'automne inspire les poètes à écrire sur leurs sentiments devant la beauté de cette saison. Les feuilles et le ciel se teintent d'une magnifique palette de couleurs automnales. 

A estação das folhas que o outono pinta de vermelho, laranja, amarelo, inspira os poetas a escreverem sobre a beleza destes dias! 


ESQUEÇO-ME DAS HORAS TRANSVIADAS…

Esqueço-me das horas transviadas
o Outono mora mágoas nos outeiros
E põe um roxo vago nos ribeiros…
Hóstia de assombro a alma, e toda estradas…

Aconteceu-me esta paisagem, fadas
De sepulcros a orgíaco… Trigueiros
Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas…

No claustro sequestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia
Põe dias de ilhas vistas do convés

No meu cansaço perdido entre os gelos
E a cor do outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância…


Fernando Pessoa, in “Cancioneiro” 

Né en 1888 à Lisbonne, mort en 1935, Fernando Pessoa a vécu 6 ans à Durban où il acquiert une parfaite connaissance de la langue anglaise. Tout en exerçant une activité de fonctionnaire à Lisbonne, il s’adonne à la poésie. L’amplitude de son œuvre lui vaut d’être considéré comme l’un des plus grands poètes de ce siècle. 

“...Les hétéronymes les plus connus sont ceux que Pessoa a présenté au cours de sa vie, en publiant quelques-unes de leurs œuvres, et ce sont les plus structurés. Il s’agit des poètes Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, auxquels s’ajoute Bernardo Soares, le semi-hétéronyme (celui qui ressemble le plus au style de Pessoa orthonyme)...” 

Fernando Pessoa (Lisboa, 13 de junho de 1888 — Lisboa, 30 de novembro de 1935) foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário, comentarista político. 
Fernando Pessoa é o mais universal poeta português.


Ruínas

Se é sempre Outono o rir das primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair…
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!

E deixa sobre as ruínas crescer heras.
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino de Quimeras!

Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais altos do que as águias pelo ar!

Sonhos que tombam! Derrocada louca!
São como os beijos duma linda boca!
Sonhos!… Deixa-os tombar… deixa-os tombar…

Florbela Espanca



Florbela Espanca (8 décembre 1894- 8 décembre 1930), nom de baptême : Flor Bela de Alma da Conceição, est une des plus grandes poétesses portugaises. Elle naît le 8 décembre 1894 à Vila Viçosa (en Alentejo).


"..Florbela Espanca (Vila Viçosa, 8 de dezembro de 1894Matosinhos, 8 de dezembro de 1930), batizada como Flor Bela Lobo, e que opta por se autonomear Florbela d'Alma da Conceição Espanca,  foi uma poetisa portuguesa. A sua vida, de apenas 36 anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos, que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo.."



um poème de Cecília Meireles avec ma traduction d'amateur (en rouge)

Canção de Outono                          Chanson de l'automne

Perdoa-me, folha seca,                            Pardonne-moi, feuille sèche,
não posso cuidar de ti.                            je ne peux prendre soin de toi.
Vim para amar neste mundo,                  Je suis venue au monde pour aimer,
e até do amor me perdi.                          et même l'amour je ne le trouve pas.                   

De que serviu tecer flores                              À quoi cela sert-il de tisser des fleurs 
pelas areias do chão,                                      sur les sables du sol,
se havia gente dormindo                                quand il y a des gens qui dormaient
sobre o próprio coração?                                sur leur propre coeur?            

E não pude levantá-la!                            Et je n'ai pas pu la soulever!
Choro pelo que não fiz.                           Je pleure pour ce que je n'ai pas fait.
E pela minha fraqueza                            Et à cause de ma faiblesse
é que sou triste e infeliz.                         je suis triste et malheureuse.             
Perdoa-me, folha seca!                           Pardonne-moi, feuille sèche!
Meus olhos sem força estão                    Mes yeux sans force 
velando e rogando àqueles                      veillent et supplient ceux
que não se levantarão…                          qui ne se  lèveront pas...

Tu és a folha de outono                          Tu es la feuille d'automne
voante pelo jardim.                                 tournoyant dans le jardim.
Deixo-te a minha saudade                       Je te laisse mon désir
– a melhor parte de mim.                        - la meilleure partie de moi.
Certa de que tudo é vão.                          Dans la certitude que tout est en vain.
Que tudo é menos que o vento,               Que tout est bien moins que le vent, 
menos que as folhas do chão…                moins que les feuilles sur le sol...

Cecília Meireles



"...Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 – Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma jornalista, pintora, poeta, escritora e professora brasileira. É um nome canônico do modernismo brasileiro, uma das grandes poetas da língua portuguesa e é amplamente considerada a melhor poeta do Brasil, embora tenha combatido a palavra poetisa por causa da discriminação de gênero..."




Crepúsculo de Outono

O crepúsculo cai, manso como uma benção.
Dir-se-á que o rio chora a prisão de seu leito…
As grandes mãos da sombra evangélicas pensam
As feridas que a vida abriu em cada peito.

O outono amarelece e despoja os lariços.
Um corvo passa e grasna, e deixa esparso no ar
O terror augural de encantos e feitiços.
As flores morrem. Toda a relva entra a murchar.

Os pinheiros porém viçam, e serão breve
Todo o verde que a vista espairecendo vejas,
Mais negros sobre a alvura unânime da neve,
Altos e espirituais como flechas de igrejas.

Um sino plange. A sua voz ritma o murmúrio
Do rio, e isso parece a voz da solidão.
E essa voz enche o vale…o horizonte purpúreo…
Consoladora como um divino perdão.

O sol fundiu a neve. A folhagem vermelha
Reponta. Apenas há, nos barrancos retortos,
Flocos, que a luz do poente extática semelha
A um rebanho infeliz de cordeirinhos mortos.

A sombra casa os sons numa grave harmonia.
E tamanha esperança e uma tão grande paz
Avultam do clarão que cinge a serrania,
Como se houvesse aurora e o mar cantando atrás.

Manoel Bandeira 


Manuel Bandeira, né le 19 avril 1886 à Recife et mort le 13 octobre 1968 à Rio de Janeiro, est un poète, enseignant et écrivain brésilien.

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 19 de abril de 1886 — Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. 



Avec quelques unes de mes photos, en visite au Parc Municipal de Loulé (balade d'automne).






lundi 19 octobre 2020

Afonso Celso - "Rosa / Rose"

Afonso Celso
Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior, poète, historien, écrivain célèbre, juriste, homme politique brésilien (Ouro Preto 1860 - Rio de Janeiro1938), fils du vicomte de Ouro Preto.
C'est son grand-père portugais, João António Afonso, qui avait quitté le Portugal pour le Brésil, et était devenu brésilien.
Afonso Celso fut membre co-fondateur de l'Académie brésilienne des lettres et fut un grand défenseur de l'abolition de l'esclavage et du régime républicain.

"...Avec la proclamation de la république en novembre 1889, Afonso Celso résolut, par solidarité avec son père, et quoiqu’ayant pris une part active aux campagnes abolitionnistes et républicaines, d’accompagner son père sur le chemin de l’exil, à la suite du départ de la famille impériale pour le Portugal...Revenu au Brésil en 1892, Afonso Celso abandonna la politique pour se vouer à son métier d’avocat, à l’enseignement du droit, aux belles lettres et au journalisme...

Je vous présente deux poèmes de ce grand poète et homme de lettres brésilien (avec ma traduction d'amateur).


 Rosa 

Rosa colhia sozinha                                 Rose cueillait seule 
Lindas rosas no jardim
                         De belles roses dans son jardin 
E nas faces também tinha
                    Et sur les joues elle avait aussi
Duas rosas de carmim. 
                        Deux roses de carmin.

Cheguei-me e disse-lhe: Rosa
            En la voyant je lui dis: Rose
Qual dessas rosas me dás?
                  Laquelle de ces roses tu me donnerais? 
As da face primorosa
                            Celles de tes joues gracieuses
Ou essas que unindo estás?...
            Ou celles que tu es en train d'assembler?...

Ela fitou-me sorrindo,
                         Elle me regarda en souriant, 
Ainda mais enrubesceu;
                     Et plus encore elle rougit;
Depois, ligeira fugindo, 
                      Puis, légère en s'éloignant, 
De longe me respondeu:
                     De loin elle me répondit:

"Não dou-te as rosas das faces
        "Les roses de mes joues je ne te donnerai 
Nem as que tenho na mão:
                Ni celles que j'ai dans ma main: 
Daria, se me estimasses,
                     Je te donnerai, si tu m'estimes,                   
As rosas do coração."                            Les roses que j'ai dans mon coeur."

Afonso Celso 



NA FAZENDA

Dorme a fazenda. Uniformes,
Com seu inclinado teto,
Têm as senzalas o aspeto
De um bando d´aves enormes.

Os cães, no pátio encoberto,
Repousam de orelha erguida;
São como oásis de vida
Da escuridão no deserto.

De vagos tons uma enfiada
Com o torpor luta e vence-o;
É no burel do silêncio
Franja sonora bordada.

Às vezes, da porta estreita
Sai um chorar de criança,
Chamando a mãe que descansa
Morta do afã da colheita.

Talvez no infantil assombro
Já se lhe antolhe mais tarde:
— O eito enquanto o sol arde,
E o peso da enxada ao ombro.

Os cães levantam-se a meio,
Geme a criança um momento
E, a pouco e pouco, em lamento
Sucumbe o isolado anseio.

Longe, na sombra perdido,
Há no perfil de um oiteiro
Algo de estranho guerreiro
Da cota de armas vestido.

Ao lado reluz a linha
De extensa e alvacenta estrada,
Como a lâmina da espada
Que lhe saltou da bainha.

E o disco da lua nova
No lar azul das esferas,
De nuvens que lembram feras,
Como um réptil sai da cova.

Ondula no espaço o fumo
De algum incêndio invisível;
Chora a criança, impassível
Prossegue a noite em seu rumo.

Afonso Celso 

         (De Rimas de outr´ora, 1894)

mardi 13 octobre 2020

Leonor de Almeida - "Junto às margens de um rio / Au bord d'une rivière"

Leonor de Almeida Portugal, Marquise d'Alorna  (image Wikipedia)

Je vous invite à faire la connaissance d'une femme de lettres et poétesse portugaise, née au 18e siècle: 
Leonor de Almeida (pseudonyme: Alcipe).
Cette poétesse appartenait à la noblesse portugaise. Grand nombre de ses oeuvres ont été rédigées lorsqu'elle a vécu dans le couvent de Chelas (à Lisbonne) où elle est rentrée à l'âge de 8 ans, en même temps que sa soeur de 6 ans, après que son père ait été acccusé d'avoir participé à un attentat contre le roi. 
Elle en sortit en 1777, au bout de 18 ans.
Selon plusieurs publications, durant ces années au couvent, Leonor aura étudié les oeuvres de Rousseau, Gray, Young, Corneille et Racine entre autres, dont elle traduisait les écrits. Elle apprit l'allemand, l'anglais, l'italien, le français, le latin et l'arabe.

Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre, Marquesa de Alorna,
(São Jorge de Arroios, Lisboa, 31 de outubro de 1750 — Coração de Jesus, Lisboa, 11 de outubro de 1839) foi uma nobre e poetisa portuguesa.
Era filha de D. João de Almeida Portugal, segundo marquês de Alorna e quinto conde de Assumar. 
Tendo o seu pai sido preso, acusado de participar no atentado ao rei D. José, Leonor, de oito anos, entrou com sua irmã para o convento de Chelas, vindo somente a sair após a morte do Marquês de Pombal. 
Casou en 1779 com o Conde de Oeynhausen e viajou por Viena, Berlim e Londres. Enviuvou aos 43 anos de idade, vivendo com algumas dificuldades económicas, dificuldades estas que não a impediram de se dedicar à literatura. 
Adoptou na Arcádia o nome de Alcipe. Traduziu a Arte Poética de Horácio e o Ensaio sobre a Crítica de Pope. É considerada uma poetisa pré-romântica. As suas obras foram publicadas em 1844 em seis volumes com o título genérico de Obras Poéticas. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/alorna.htm

Me voici à la recherche des poèmes de la Marquise d'Alorna!
Como está sereno o céu,
como sobe mansamente
a Lua resplandecente
e esclarece este jardim!

Os ventos adormeceram;
das frescas águas do rio
interrompe o murmúrio
de longe o som de um clarim.

Acordam minhas ideias,
que abrangem a Natureza;
e esta nocturna beleza
vem meu estro incendiar.

Mas, se à lira lanço a mão,
apagadas esperanças
me apontam cruéis lembranças,
e choro em vez de cantar.

Leonor de Almeida


Junto às margens de um rio 

Junto às margens de um rio docemente
Com meus suspiros altercando,
A viva apreensão ia pintando
Passadas glórias no cristal luzente.

Mas quando nesta ideia mais contente
O coração se estava recreando,
Despenhou-se do peito o gosto brando,
Envolto com a rápida corrente.

Lá vão parar meus gostos no Oceano,
Ficando inanimado o peito e frio,
Que o recreio buscou só por seu dano.

Acabou-se o contente desvario,
E meus olhos saudosos do engano
Quase querem formar um novo rio.

Leonor de Almeida

Avec ma traduction d'amateur:

Près des rives d'une rivière calmement
Avec mes soupirs qui se tiraillaient,
L'appréhension vivante qui dessinait
Les gloires passées sur le cristal brillant.

Mais lorsque dans ce mode plus complaisant 
Le cœur se venait à recréer,
Le doux aloi de ma poitrine s'est échappé,
Enveloppé par le rapide courant.

Mes goûts dans l'Océan iront aboutir,
Ma poitrine devenant inanimée et gelée,
Que le délassement n'a cherchée que pour l'amoindrir.

Fini le joyeux enivrement,
Et mes yeux tristes de le voir finir
Veulent presque former un nouveau torrent.