Almeida Garrett
Se estou contente, querida, Si je heureux, ma chérie,
Com esta imensa ternura Avec cette immense tendresse
De que me enche o teu amor? Qui m'envahit de ton amour?
- Não. Ai não; falta-me a vida; - Non. Oh non; la vie me manque;
Sucumbe-me a alma à ventura: Mon âme succombe au bonheur:
O excesso de gozo é dor. L'excès de plaisir est une douleur.
Dói-me a alma, sim; e a tristeza Mon âme me blesse, oui; et la tristesse
Vaga, inerte e sem motivo, Vague, inerte et sans but,
No coração me poisou. Dans mon coeur elle a atterri.
Absorto em tua beleza, Absorbé dans ta beauté,
Não sei se morro ou se vivo, Je ne sais pas si je meurts ou si je vis,
Porque a vida me parou. Car la vie pour moi s'est arrêtée.
É que não há ser bastante C'est que personne n'est assez grand
Para este gozar sem fim Pour un tel plaisir infini
Que me inunda o coração. Qui m'innonde le coeur.
Tremo dele, e delirante J'en tremble, et en délirant
Sinto que se exaure em mim Je sens qu'en moi s'épuise
Ou a vida - ou a razão. Ou la vie - ou le discernement
(traduction)
Almeida Garrett, in Folhas Caídas
Este inferno de amar
Este inferno de amar – como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida – e que a vida destrói.
Como é que se veio atear,
Quando – ai se há de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes eu vivi
Era um sonho talvez… foi um sonho.
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! Que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! Despertar?
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… Dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? Eu que fiz? Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei…
Almeida
Garrett
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… Dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? Eu que fiz? Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei…
Traduit en français ICI
Almeida Garrett o apelido que o poeta começou a usar em 1818,
João
Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, mais tarde 1.º Visconde de Almeida Garrett (Porto, 4
de fevereiro de 1799 — Lisboa, 9 de dezembro de 1854),
foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, par
do reino, ministro e secretário de estado honorário português.
Grande impulsionador do teatro em
Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs
a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório
de Arte Dramática.